domingo, 30 de dezembro de 2007

Fizeram a gente acreditar (John Lennon)

Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada.

Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta. A gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia é só mais agradável.

Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada “dois em um”: duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.

Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas.

Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho.

E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém.

Vivemos num mundo onde precisamos nos esconder pra fazer amor… enquanto a violência é praticada em plena luz do dia.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Revolução da alma (Aristóteles)

Ninguém é dono da sua felicidade, por isso não entregue sua alegria, sua paz, sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente ninguém.

Somos livres, não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja.

A razão da sua vida é você mesmo. A tua paz interior é a tua meta de vida.

Quando sentires um vazio na alma, quando acreditares que ainda está faltando algo, mesmo tendo tudo, remete teu pensamento para os teus desejos mais íntimos e busque a divindade que existe em você.

Pare de colocar sua felicidade cada dia mais distante de você...

Não coloque objetivos longe demais de suas mãos, abrace os que estão ao seu alcance hoje.

Se andas desesperado por problemas financeiros, amorosos ou de relacionamentos familiares, busca em teu interior a resposta para acalmar-te, você é reflexo do que pensas diariamente.

Com um sorriso no rosto as pessoas terão as melhores impressões de você, e você estará afirmando para você mesmo, que está "pronto"para ser feliz.

Trabalhe, trabalhe muito a seu favor.

Pare de esperar a felicidade sem esforços. Pare de exigir das pessoas aquilo que nem você conquistou ainda.

Critique menos, trabalhe mais.

E, não se esqueça nunca de agradecer.

Agradeça tudo que está em sua vida nesse momento, inclusive a dor. Nossa compreensão do universo, ainda é muito pequena para julgar o que quer que seja na nossa vida.

Por fim, acredite que não estaremos sozinhos em nossas caminhadas, um instante sequer...

...se nossos passos forem dados em busca de justiça e igualdade!!!

domingo, 16 de dezembro de 2007

Carta de Paulo (I Coríntios 13)

Ainda que eu fale a língua dos homens
e dos anjos, se não tiver amor,
serei como o bronze que soa, ou como
o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar
e conheça todos os mistérios e toda a ciência:
ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto
de transportar montanhas,
se não tiver amor nada serei.

E ainda que eu distribua todos os
meus bens entre os pobres
e ainda que entregue meu próprio
corpo para ser queimado,
se não tiver amor
nada disso me aproveitará.

O amor é paciente, é benigno,
o amor não arde em ciúmes,
não se ufana, não se ensoberbece,
não se conduz inconvenientemente.
não procura seus interesses,
não se exaspera.
não se ressente do mal;
não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera.
Tudo suporta.

O amor jamais acaba.
Mas, havendo profecias, desaparecerão;
havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, passará.
Porque em parte conhecemos,
em parte profetizamos.
Quando porém vier o que é perfeito,
o que então é em parte será aniquilado.

Quando eu era menino, falava como um
menino, sentia como um menino.
Quando cheguei a ser homem,
desisti das coisas próprias de menino.
Porque agora vemos como em espelho,
obscuramente, e então veremos face a face;
agora conheço em parte, e então
conhecerei como sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a Fé,
a Esperança, e o Amor.
Estes três.
Porém o maior deles é o Amor.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Desejo (Victor Hugo)

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar

E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo

Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor

Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada

Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
"Isso é meu"
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem

Desejo também
Que nenhum de seus afetos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar

Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar

E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar...

domingo, 2 de dezembro de 2007

Corinthians (Anônimo)

Corinthians: o teu destino
É jogar com o Bragantino
E também, com melancolia,
Ter de enfrentar o Bahia

Corinthians, vou te dizer:
Vai ser chato jogar com o ABC...
Mas pare, olhe e pense:
Pior ainda será pegar o Brasiliense

Corinthians: tua fiel família
Terá de ir até Marília
E - quanta dureza! -
Mais longe ainda é Fortaleza

Corinthians: a tua sina
É pegar o Tigre de Santa Catarina
E o teu tal coração corintiano
Vai bater fraquinho em São Caetano

Corinthians: mas que inhaca!
Será chato ter de estar com a Macaca
Bem sei que teu peito sempre se inflama,
Mas aviso: vai ter jogo contra o Gama

Corinthians: cavastes tua cova
E agora terás de jogar com o Vila Nova!
E eu vou rir pra dedé
Quando fores em Santo André

Corinthians: hoje me redimi,
Pois terá jogo teu em Barueri
E também (há, há, há)
Vais pegar o Ceará

Corinthians, "péra" aí:
Tem cabimento jogo com o Avaí?
E também (olalá, olelê)
Por fim enfrentarás o CRB

Corinthians: existe algum mal
Ter de jogar de novo em Natal?
Espero que tenhas digna atitude
E encares novamente Paraná e Juventude

Corinthians: para encerrar
Há algo que tenho de te falar:
Pela franqueza te peço perdão,
Mas teu lugar é mesmo na Segunda Divisão!

sábado, 24 de novembro de 2007

É proibido (Pablo Neruda)

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.

É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.

É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.

É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.

É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.

É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.

É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.

É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

sábado, 17 de novembro de 2007

O tamanho das pessoas (William Shakespeare)

O tamanho varia conforme o grau de envolvimento.

Ela é enorme para você, quando fala do que leu e viveu,
quando trata você com carinho e respeito,
quando olha nos olhos e sorri destravado.

É pequena para você quando só pensa em si mesmo,
quando se comporta de uma maneira pouco gentil,
quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas:
A amizade, o respeito, o carinho, o zelo e até mesmo o amor.

Uma pessoa é gigante para você quando se interessa pela sua vida,
quando busca alternativas para o seu crescimento,
quando sonha junto com você.

É pequena quando desvia do assunto.

Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende,
quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela,
mas de acordo com o que espera de si mesma.

Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.

Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento,
pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas.

Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande.

Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.

É difícil conviver com esta elasticidade:
As pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos.
Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros,
mas de ações e reações, de expectativas e frustrações.

Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes.

Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande...

É a sua sensibilidade sem tamanho...

domingo, 11 de novembro de 2007

Navegue (Fernando Pessoa)

Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.
As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.
O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama? Guarde dentro de um porta-jóias, tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é outro, se a idade aumenta; conserve a vontade de viver, não se chega à parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho.
Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.
Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada!

domingo, 4 de novembro de 2007

Mulheres de 30 (Arnaldo Jabor)

À medida que envelheço e convivo com outras, valorizo mais ainda as mulheres que estão acima dos 30. Elas não se importam com o que você pensa, mas se dispõem de coração se você tiver a intenção de conversar.

Se ela não quer assistir ao jogo de futebol na TV, não fica à sua volta resmungando, pirraçando... Vai fazer alguma coisa que queira fazer... E geralmente é alguma coisa bem mais interessante. Ela se conhece o suficiente para saber quem é, o que quer e quem quer.

Elas definitivamente não ficam com quem não confiam. Mulheres se tornam psicanalistas quando envelhecem. Você nunca precisa confessar seus pecados... Elas sempre sabem...

Ficam lindas quando usam batom vermelho. O mesmo não acontece com mulheres mais jovens... Por que será, hein? Mulheres mais velhas são diretas e honestas. Elas te dirão na cara se você for um idiota, caso esteja agindo como um. Você nunca precisa se preocupar onde se encaixa na vida dela. Basta agir como homem e o resto deixe que ela faça...

Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 anos! Infelizmente isto não é recíproco, pois para cada mulher com mais de 30 anos, estonteante, bonita, bem apanhada, sexy, e bem resolvida, existe um homem com mais de 30, careca, pançudo, em bermudões amarelos, bancando o bobo para uma garota de 19 anos...

Senhoras, eu peço desculpas por eles: não sabem o que fazem!

Para todos os homens que dizem ”Porque comprar a vaca, se você pode beber o leite de graça?”, aqui está a novidade para vocês: hoje em dia 80% das mulheres são contra o casamento e sabem por quê? Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprar um porco inteiro só para ter uma lingüiça!

Nada mais justo!

domingo, 28 de outubro de 2007

Alma gêmea (Emmanuel, psicografado por Chico Xavier)

Alma gêmea de minha'lma...
flor de luz de minha vida...
Sublime estrela caída...
das belezas da amplidão

Quando eu errava no mundo...
triste e só, no meu caminho,
Chegaste, devagarzinho,
E encheste-me o coração...

Vinhas na bênção das flores
Da divina claridade,
Tecer-me a felicidade
Em sorrisos de esplendor!!!

És meu tesouro infinito,
Juro-te eterna aliança,
Porque sou tua esperança,
Como és todo meu amor!

Alma gêmea de minha'lma,
Se eu te perder algum dia...
Serei tua escura agonia,
Da saudade nos seus véus...

Se um dia me abandonares,
Luz terna dos meus amores,
Hei de esperar-te, entre as flores
Da claridade dos céus.

domingo, 21 de outubro de 2007

Soneto 116 (William Shakespeare)

De almas sinceras a união sincera

Nada há que impeça: amor não é amor

Se quando encontra obstáculos se altera,

Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,

Que encara a tempestade com bravura;

É astro que norteia a vela errante,

Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora,

Seu alfanje não poupe a mocidade;

Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se afirma para a eternidade.

Se isso é falso, e que é falso alguém provou,

Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.


Dedicatória (Bruno Momesso Bertolo)

À pessoa que me apresentou este comovente poema,
À alma gêmea que apareceu quando menos esperava,
À mulher de olhar meigo, aroma aprazível, sorriso arrebatador e beijo doce.

Àquela que com sua vivacidade, inteligência e maturidade peculiares cativa a todos,
Que me salvou da apatia e da desilusão com seu amor, respeito e cumplicidade,
Cuja presença ilumina minha vida, proporcionando uma paz espiritual plena.

Há tanto a se falar, mas faltam-me as palavras.
Afinal, elas não são suficientes para exteriorizar os sentimentos que nutro por você.
Basta dizer que te amo!

domingo, 14 de outubro de 2007

A tropa da violência extrema (Luís Carlos Lopes)

Nas normas do fascismo líquido, a acusação de fascista cabe para muita gente e, ao mesmo tempo, para ninguém. Este líquido que corre nas vias de transmissão comunicacional da sociedade brasileira permite que muitos sejam fascistas, sem saber que o são, no compasso de outros que verdadeiramente o são, sabendo o que são e achando que estão cobertos de razão. A tragédia deste novo tipo de politização, que esquece o passado e acha que o presente é o que importa, mantém o mito que as atitudes que vemos no filme Tropa de Elite em nada se assemelham a tão velha SS nazista.

Na verdade, são na origem fascistas todos os que comungaram com a nossa brasileiríssima ditadura militar (1964-1985). Alguns poucos deles fazem parte, infelizmente, da base de apoio do governo Lula. Outros estão no Congresso Nacional e ainda outros estão em inúmeros órgãos públicos civis e militares. Ainda outros, estão fora do Estado, mas pertencem a uma sociedade que tentaram dobrar, torcer e impedir que florescesse. Estão impunes frente a uma Justiça ainda sem equidade e contando com a tolerância de um povo acostumado a perdoar e submisso aos seus desígnios, jamais decididos a partir de suas opções.

Como por aqui não houve a cobrança das responsabilidades pelas mortes, torturas e outros crimes da época, há até quem se diga hoje democrata e busque apagar o seu passado de adesão ao terror de Estado. Infelizmente, existem, outrossim, os convertidos, isto é, os que foram vítimas da ditadura e agora a celebram, como se o passado nada importasse para suas vidas. Esta situação é, por vezes, difícil de compreender e ainda mais de aceitar. Faz parte da geléia geral do Brasil, país com imensas contradições, que não são facilmente assimiláveis por quem pratica o hábito de pensar para além de seu nariz.

Por isto, o Tropa de Elite que pôde ser visto por milhões – graças à pirataria –, e poderá depois ser exibido como troféu pela mídia convencional, vem passando quase incólume por um possível julgamento público de nossa história recente. A miséria, na mesma obra, é vendida como natural, em imagens de impacto radical, sobre as condições de vida dos pobres brasileiros. As pessoas são miseráveis e carentes de tudo e algumas delas transformam-se - não se sabe hipocritamente porquê - em criminosos violentos. Segundo o filme, a solução é matá-las, como exemplo, com o maior requinte de perversidade possível.

A questão dos direitos humanos, de acordo com a mesma argumentação desenvolvida na película, consiste em uma alegação de brancos drogados das classes médias. Nada mais insultante, inverídico e portador de uma imensa intriga, com o claro objetivo de desacreditar os militantes brasileiros e estrangeiros da causa dos direitos humanos.

Combater a corrupção policial seria, segundo o mesmo trabalho, optar pelo Capitão Nascimento, alguém que seria contra a corrupção, mas que volta o seu ódio contra os pobres, sobretudo contra aos jovens ligados ao tráfico de drogas nas miseráveis favelas cariocas. Nenhuma palavra contra o desemprego e a concentração de renda. A solução é apagar a mancha dos poucos que ousam desafiar o poder de Estado, mesmo que de forma alienada e conservadora. A tropa surge como solução ao caos da repressão oficial. Ninguém sabe como ela foi montada e nem por quê. Surgiu, de onde pode se depreender, da “banda boa” da polícia, em contraposição a falada “banda podre”.

O filme tem o mérito de mostrar a corrupção policial e o demérito de celebrar a violência extrema. Navega no fio de uma navalha, respingando sangue para todos os lados. Seus expectadores parecem gostar, porém, não é ainda possível avaliar a real repercussão. Calcula-se que pelo menos três milhões que já teriam visto as cópias piratas, amplamente distribuídas pela Internet e que já geraram algumas prisões dos que permitiram a distribuição. E bem possível, que o filme responda aos anseios populares de crítica à corrupção de Estado e ao conservadorismo das classes médias que são bastante seduzidas pelo modelo de violência apregoada na mesma obra. Desde a época da escravidão brasileira, acredita-se na violência extrema como forma de reduzir os mais pobres à condição de mais absoluta submissão. A escravidão acabou em 1888, mas a ordem social brasileira continua se inspirando neste passado dantesco, que durou quatrocentos anos.

Os capitães do mato do passado foram substituídos pelas forças oficiais dos aparatos repressivos do mundo de hoje. O resultado é similar. Será que algum dia, a lógica do escravismo colonial brasileiro será superada? Ou este pesadelo atravessará ainda várias gerações? Confesso ao leitor a minha perplexidade. Não sei responder às questões que coloco para reflexão dos que querem pensar um Brasil mais humano e mais respeitoso dos direitos de sua gente.

sábado, 6 de outubro de 2007

A despedida (Johnny Welch)

Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marionete de pano e me presenteasse um pedaço de vida, aproveitaria esse tempo o máximo que pudesse. Possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria em tudo o que digo. Daria valor às coisas, não por aquilo que valem, senão pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais se detivessem, despertaria quando os demais dormissem.

Se Deus me obsequiasse um pedaço de vida, me vestiria de maneira simples, me deitaria de bruços ao sol, deixando descoberto, não somente meu corpo, senão minha alma.

Aos homens eu provaria o quão equivocados estão ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar! A uma criança lhe daria asas, mas deixaria que ela aprendesse a voar sozinha. Aos velhos lhes ensinaria que a morte não chega com a velhice, senão com o esquecimento.

Tantas coisas eu aprendi de vocês, os homens... Eu aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpada. Eu aprendi que quando um recém-nascido aperta com seu pequeno punho, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem preso para sempre. Eu aprendi que um homem só tem direito de olhar a um outro de cima para baixo, quando vai ajudá-lo a levantar-se.

São tantas coisas as que eu pude aprender de vocês, mas realmente não haverão de servir muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente eu estarei morrendo. Sempre diga o que sentes e faz o que pensas.

Se soubesse que hoje seria a última vez que vou te ver dormir, te abraçaria fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião de tua alma. Se soubesse que estes são os últimos minutos que te vejo, diria "te quero" e não assumiria, estupidamente, que você já sabe.

Sempre há um amanhã e a vida nos dá outra oportunidade para fazer as coisas bem, mas se por acaso me equivoco e hoje é tudo o que nos resta, eu gostaria de te dizer o quanto te quero, que nunca te esquecerei. O amanhã não está assegurado a ninguém, jovem ou velho.

Hoje pode ser a última vez que vejas aos que amas. Por isso não esperes mais, faça hoje, já que se o amanhã nunca chegar, seguramente lamentarás o dia em que não tomastes tempo para um sorriso, um abraço, um beijo e que estivestes muito ocupado para conceder-lhes um último desejo.

Mantém aos que amas perto de ti, diga-lhes ao ouvido o muito que precisas deles, queira-os e trata-os bem, tome tempo para dizer-lhes "sinto muito", "perdoa-me", "por favor", "obrigado" e todas as palavras de amor que conheces. Ninguém te recordará pelos teus pensamentos secretos. Pede ao Senhor a força e a sabedoria para expressá-los. Demonstra a teus amigos e seres queridos o quanto te importam.

domingo, 30 de setembro de 2007

O amor (Arthur da Távora)

Aos casados há muito tempo,
Aos que não casaram,
Aos que vão casar,
Aos que acabaram de casar,
Aos que pensam em se separar,
Aos que estão juntos, amigados, colados,
Aos que acabaram de se separar.
Aos que pensam em voltar...

Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado uma ótima posição no ranking das virtudes, o amor ainda lidera com folga. Tudo o que todos querem é amar.

Encontrar alguém que faça bater forte o coração e justifique loucuras. Que nos faça entrar em transe, cair de quatro, babar na gravata. Que nos faça revirar os olhos, rir à toa, cantarolar dentro de um ônibus lotado.

Tem algum médico, aí?

Depois que acaba esta paixão retumbante, sobra o que? O amor. Mas não o amor mistificado, que muitos julgam ter o poder de fazer levitar. O que sobra é o amor que todos conhecemos: o sentimento que temos por mãe, pai, irmão, filho.

É tudo o mesmo amor, só que entre amantes existe sexo. Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja. O amor é único, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus.

A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta...

Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna.

Casaram. Te amo pra lá, te amo pra cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas. Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes, nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões zero.

Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência... Amor só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura, para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar.

Amar só é pouco. Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas para pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar. Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.

Entre casais que se unem, visando à longevidade do matrimônio, tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um. Tem que haver confiança. Certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar "solamente", não basta.

Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.

O amor é grande, mas não são dois. Tem que saber se aquele amor faz bem ou não, se não fizer bem, não é amor. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.

Um bom amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!

domingo, 23 de setembro de 2007

Citações (Mahatma Gandhi)

“A experiência ensinou-me que o silêncio faz parte da disciplina espiritual de um seguidor da verdade. A tendência a exagerar, a eliminar ou modificar a verdade, consciente ou inconscientemente, é uma fraqueza natural do homem. Para vencê-la é necessário o silêncio. Um homem de poucas palavras dificilmente será leviano nas suas conversas: medirá as palavras”.

“Aqueles que têm um grande autocontrole, ou que estão totalmente absortos no trabalho, falam pouco. Palavra e ação juntas não estão bem. Repare na natureza: trabalha continuamente, mas em silêncio”.

“Odeio o privilégio e o monopólio. Para mim, tudo o que não pode ser dividido com as multidões é tabu”.

“Não posso imaginar uma época em que nenhum homem seja mais rico que o outro. Mas imagino uma época em que os ricos terão vergonha de enriquecer à custa dos pobres e os pobres deixarão de invejar os ricos. Nem no mundo mais perfeito conseguiremos evitar as desigualdades, mas podemos e devemos evitar a luta e o rancor. Já temos agora muitos exemplos de ricos e pobres que vivem em perfeita harmonia. Devemos só multiplicar esses exemplos”.

“Não creio que os capitalistas e donos de terras sejam todos exploradores por necessidade intrínseca ou por existir um antagonismo irreconciliável entre os interesses deles e os interesses das massas. Toda a exploração tem como base colaboração, voluntária ou forçada, do explorado. Embora nos repugne admiti-lo, a verdade é que não existiria exploração se as pessoas se negassem a obedecer ao explorador. Mas eis que intervém o interesse, e abraçamos os cadeados que nos atam. Isso deve terminar. A grande necessidade não está em acabar com os capitalistas e os proprietários de terras, mas em transformar numa coisa mais pura e sã as relações existentes entre eles e as massas”.

“A desobediência civil é um direito intrínseco do cidadão. Não ouse renunciar, se não quer deixar de ser homem. A desobediência civil nunca é seguida pela anarquia. Só a desobediência criminal leva à anarquia. Todos os Estados reprimem a desobediência criminal com a força. Reprimir a desobediência civil é tentar encarcerar a consciência”.

“A verdadeira fonte dos direitos é o dever. Se cumprimos os nossos deveres, não precisamos ir longe procurar os direitos. Se não cumprimos os deveres e buscamos os direitos, estes nos fugirão como quimeras. Quanto mais lhes corremos atrás, tanto mais eles se afastam”.

“Acredito na essencial unidade do homem, e portanto na unidade de todo o que vive. Por conseguinte, se um homem progredir espiritualmente, o mundo inteiro progride com ele, e se um homem cai, o mundo inteiro cai em igual medida”.

“Uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias”.

“Não desejo morrer pela parálise progressiva das minhas faculdades, como um homem vencido. A bala de um assassino poderia pôr fim à minha vida. Acolhê-la-ia com alegria”.

“Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo”.

“Um ideal custa uma vida, mas vale a eternidade”.

“A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita”.

“O meu patriotismo não é exclusivo. Engloba tudo. Eu repudiaria o patriotismo que procurasse apoio na miséria ou na exploração de outras nações. O patriotismo que eu concebo não vale nada se não se conciliar sempre, sem exceções, com o maior bem e a paz de toda a humanidade”.

domingo, 16 de setembro de 2007

Certezas (Mário Quintana)

Não quero alguém que morra de amor por mim...
Só preciso de alguém que viva por mim,
que queira estar junto de mim, me abraçando.

Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,
quero apenas que me ame,
não me importando com que intensidade.

Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim...
Nem que eu faça a falta que elas me fazem.
O importante pra mim é saber que eu,
em algum momento, fui insubstituível...

E que esse momento será inesquecível...
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando meu rosto,
mesmo quando a situação não for muito alegre...

E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...
e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.

Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém
me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona,
que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento..
e não brinque com ele.

E que esse alguém me peça para que eu nunca mude,
para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.

Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer,
quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe...
Que ele é superior ao ódio e ao rancor,
e que não existe vitória sem humildade e paz.

Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar,
amanhã será outro dia,
e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.

Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas...
Que a esperança nunca me pareça um "não" que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como "sim".

Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa,
de poder dizer a alguém o quanto é especial e importante pra mim,
sem ter de me preocupar com terceiros...

Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão...
que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim...

E que valeu a pena!

domingo, 9 de setembro de 2007

Aprender (William Shakespeare)

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.

E você aprende que amar não significa apoiar-se e que companhia nem sempre significa segurança.

E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se você ficar exposto por muito tempo.

E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...

E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando...

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se leva um certo tempo para construir confiança e apenas segundos para destruí-la.

E que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.

E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.

E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam. Percebe que você e seu melhor amigo podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa... Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas aonde está indo. Mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.

Aprende que ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que os heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.

Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que, algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a se levantar.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais de seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca deve dizer a uma criança que seus sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem aprender a perdoar a si mesmo.

Aprende que com a mesma severidade com que julga, você em algum momento será julgado.

Aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.

E você aprende que realmente pode suportar... Que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe, depois de pensar que não pode mais.

E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida.

domingo, 2 de setembro de 2007

Brutalidade e dor (Lilian Alves Bertolini)

A primeira impressão que se tem diante das cenas apresentadas nas arenas da festa do rodeio, é a de que o peão está montado um animal xucro, bravio e selvagem. Porém, as pessoas que vivem do rodeio oferecem ao público uma grande farsa, porque os animais utilizados são mansos e dóceis e para que corcoveiem com se fossem bravios são envoltos em vários instrumentos de tortura como, por exemplo, o sedém, tira de couro fortemente presa à virilha do animal. No momento da abertura do brête, o sedém é fortemente puxado, provocando dor por comprimir violentamente a região do órgão genital e intestinal do animal.

Os defensores do rodeio alegam que o sedém provoca apenas cócegas. Cabe aqui, o uso do bom senso. Como algo que comprime fortemente região tão sensível poderia causar dor? Também é necessário esclarecer que, segundo a literatura médica, cócegas é uma sensação nervosa que advém de fricções ligeiras ou leves toques. Portanto, uma compressão violenta como provocada pelo sedém jamais causaria tal sensação.

Bovinos e eqüinos reagem ao sedém não porque sentem cócegas, mas por sofrimento, dor, medo, ira e aflição. Que o sedém provoca dor e tormento é o que atestam os laudos da Faculdade de Medicina na Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo e do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro.

São também utilizadas as esporas para incitar os animais mediante violentos golpes sincronizados e contínuos aplicados no baixo ventre, pescoço e cabeça. Não são os animais esporeados, mas sim golpeados brutalmente por esporas, que acabam por produzir contusões e cortes bastante profundos, chegando, muitas vezes s cegá-los. Não importa se as esporas são pontiagudas ou não. De qualquer forma, elas são aptas a provocar lesões nos animais graças ao fato de que os animais são golpeados com violência pelos peões.

Não bastassem o sedém e as esporas, ainda se utiliza da peiteira que consiste uma corda de couro colocada fortemente em volta do peito do animal, causando-lhe dor e sensação de asfixia. O peão, desde a peça, e, quando é aberta a porteira, a segura com uma das mãos, mantendo a outra livre, de maneira a alcançar o necessário apoio e equilíbrio sobre o dorso do animal. No boi, costuma-se colocar um sino na peiteira, para que, com os movimentos, seja provocado um barulho característico que causa a sensação de medo no animal, alterando, em decorrência, o seu estado emocional com a elevação drástica da adrenalina.

Choques elétricos também são utilizados para estimular os animais a demostrarem comportamento agressivo. São produzidos por sovelas, geralmente momentos antes dos animais deixarem o brête.

Portanto, essa falsa aparência de animal bravio corcoveando e saltando advém da tentativa desesperada de livrar-se dos instrumentos de tortura.

O animal corre de maneira desordenada, sem direção, lutando para fugir dos maus-tratos, quando, não raras vezes, vem a chocar-se contra as grades de proteção da arena.

Além da montaria, outras provas especialmente cruéis e violentas são as provas de laço.

Poucos imaginam o motivo pelo qual o animal penetra a arena correndo velozmente. Ocorre que, bezerros e garrotes são mantidos em pequenos cercados e lá recebem golpes, socos e pontapés, para que, ao abrirem a porteira, corram desesperadamente na tentativa de escapar ao maus-tratos.

Nas laçadas de bezerros são utilizados animais de quarenta dias de idade, apenas. O impacto que recebe o animal ao ser laçado é suficiente para feri-lo gravemente. Há morte instantânea de muitos deles, após a ruptura da medula espinhal. Alguns ficam paralíticos ou sofrem rompimento parcial ou total da traquéia. O resultado de ser atirado violentamente ao chão, tem causado a ruptura de diversos órgãos de diversos órgãos internos, levando o animal a uma morte lenta e agonizante.

Não menos atrozes as laçadas duplas compostas por dois peões. Onde, um laça os chifres de um boi em movimento e o outro laça as pernas traseiras do animal, em seguida os peões esticam o boi entre si, em sentido contrário um do outro, resultado em ligamentos e tendões distendidos, além de músculos machucados.

Laçadores declaram orgulhosamente, que treinam de 06 a 07 horas por dia. Estes treinos não são supervisionados e realizados, na maiorias das vezes, com o mesmo animal, onde vale-tudo.

Na derrubada de boi, modalidade também conhecida como Bulldogging, o peão desmonta de seu cavalo sobre um boi em movimento, devendo derrubá-lo ao chão, agarrando-o pelos chifres e torcendo violentamente seu pescoço. O animal sofre brutal impacto de receber um peão sobre sua coluna e em seguida sofre igual violência ao ter o pescoço tracionado, já que o próprio animal oferece resistência à força que o peão emprega para derrubá-lo ao chão.

Veterinários norte-americanos, com 30 anos de experiência como inspetores da carne da U.S.D.A, declararam à Sociedade Internacional dos Direitos dos Animais que o pessoal dos rodeios manda aos matadouros, animais tão extensivamente machucados que a pele encontra-se solta do corpo, como 02 a 03 galões de sangue livre acumulados debaixo da pelo solta, devido às hemorragias internas. Relatam que há animais com seu ou oito costelas separadas da coluna vertebral, muitas vezes já perfurando os pulmões.

Os rodeios submetem os animais a constantes e sucessivas quedas, das quais podem resultar deste ferimentos e simples contusões até fraturas, entorses, luxações, rupturas musculares, rupturas dos tendões e artrites.

O cavalo que cai após empinar-se arrisca uma fratura da base do crânio podendo sofres morte imediata.

Uma queda sobre a cabeça com o pescoço dobrado pode levar a uma imobilização da medula espinhal, seguida de morte em curto prazo.

Os rodeios com as características que de hoje se revestem, se afastam das tradições mais puras de cultura popular sertaneja, não se caracterizando como manifestação folclórica ou cultural.

Devemos entender por cultura um conjunto de princípios voltados para o aprimoramento das coletividade e não para as práticas que reconduzem o ser humano ao primitivismo e à brutalidade, com os olhos postos no interesse mesquinho do lucro fácil.

Se tal prática mão pode ser aceita como cultura, menos ainda como esporte, porque não se concebe esporte que maltrate o animal.

Todos os cientistas que à luz da ética e da ciência estudaram a fisiologia e a psicologia do animal concluíram que ele é dotado de um sistema nervoso que produz, diante do sofrimento reações iguais as que, em semelhante situação, teria um ser humano.

Além da dor física, os rodeios submetem os animais a sofrimento mental, uma vez que eles possuem capacidade neuropsíquica de avaliar que esse estímulos lhes são agressivos, ou seja, perigosos à sua integridade física. Constrangem o animal a uma prática contra a qual ele se insurge, tanto que se debate como pode e com todas as forças de que dispõe, em movimentos e impulsos contrário à sua mansidão natural.

Não há como equiparar o rodeio à tradição, folclore ou esporte, porque ele flagela o animal, deforma o sentimento dos espectadores e instila no espírito das crianças e adolescentes o sadismo e a insensibilidade pelos seres vivos.

domingo, 26 de agosto de 2007

Ode ao humanismo (Emir Sader)

Agora que o Papa se foi, é boa hora para nos perguntarmos de novo o que significa ser religioso. Quando alguém nos dirige a pergunta, do ponto de vista de alguma religião – Você crê em Deus? – e respondemos que não, automaticamente procuram nos caracterizar como "ateus", com uma conotação negativa, como a do que "não crê", a do "não-crente"; uma ausência, quase um defeito, uma carência. Opondo o religioso ao "descrente". Quase nos olham com pena, com lástima, com piedade, como se olhassem para alguém condenado ao pecado, ao limbo, como a alguém que não conhecesse Deus – ou deus –, que duvidasse de sua inquestionável existência, alguém incapaz de conhecer e gozar das maravilhas da fé, incapaz de ter fé – de onde se pode deduzir: um infiel.

Mas é disso que se trata? O oposto do crente é o sem fé? Crer é somente crer em algum deus? Ser fiel é ser fiel a um deus? Ou, ao contrário, ser religioso, crer em deus – qualquer que ele seja – é não crer no homem (e na mulher), é descrer do homem, é ter a deus e não ao homem como centro do mundo? Em outras palavras, religioso se opõe a humanista e não a infiel, porque significa deslocar o centro do mundo para um outro plano ou ser, que nos criaria e definiria nosso destino e o sentido mesmo das coisas. Daí a interpretação também de qualquer forma de escritura, de texto bíblico, ser revelado ao homem por um ente superior e não ser construído pelo homem.

O que se deixa de lado, ao identificar crença com fidelidade, é o caráter alienado das visões religiosas do mundo e do próprio ato de crer em algum deus. É negar o principio fundamental do humanismo, que dá sentido à história dos homens e das mulheres: o de que os homens fazem sua própria história, mesmo quando não têm consciência disso.

Necessitado de transcendência, o homem cria e recria a religião e seus deuses, seres perfeitos, imortais, referências de valores, extraindo isso de si mesmo, para depois inverter a relação e passar, de criador a criatura, tornando-se dependente e alienado. Esse é o mecanismo pelo qual o humanismo explica a religião.

O homem livre, emancipado, não precisa de deuses, de religião, de fetiches. Ele sabe que a história é feita pelos homens conscientes, desalienados, por meio do seu trabalho. Sabe que a religião é a uma falsa consciência, que aliena o homem, ao invés de dar-lhe consciência.

Um religioso – por exemplo, católico – imputa a deus o que é produto da ação dos homens. Se fosse coerente, um católico deveria ser contra o divórcio, o aborto, os contraceptivos (inclusive os preservativos), ser a favor do celibato, do direito de apenas homens serem sacerdotes, da infalibilidade papal, da proibição dos experimentos científicos com células-tronco etc. Deveria, além disso, obedecer rigidamente a disciplina de uma instituição retrógrada, medieval, obscurantista, como a Igreja Católica.

Felizmente não o fazem, mas isto demonstra que as teses humanistas se chocam com a religião católica. Quem é a igreja católica, instituição totalmente hierárquica e antidemocrática, para dizer que governo é democrático, ditatorial ou autoritário? O que essa igreja e os seus fiéis tem a dizer da sua própria instituição?

É muito positivo que tantos religiosos extraiam valores humanistas da religião para criticar o capitalismo, a exploração, a opressão. Mas isso não permite elevar a religião a cânone de interpretação da realidade dos homens, de sua história, de suas identidades. Esta só é possível com a crítica radical de toda forma de alienação, da qual as distintas formas de religião são as principais expressões.

O respeito pela religião dos outros não deve impedir a crítica das visões religiosas do mundo, do deslocamento que elas produzem do homem como centro do mundo para deuses e outras formas de fetiches.

O humanista se rege por valores éticos, por uma interpretação histórica da vida dos homens e das mulheres, faz a crítica de toda forma de alienação, luta pela emancipação integral dos homens e das mulheres, luta por um presente e um futuro em que não se necessite de entidades supraterrestres para explicar o mundo, mas em que o mundo seja construído transparentemente pelos homens. Que seja, portanto, inteligível para todos, pleno de sentido humano.

Mitos e verdades sobre o ateísmo (Sam Harris)

O termo "ateísmo" tornou-se tão estigmatizado nos EUA que ser ateu virou total impedimento para uma carreira política, por exemplo. Segundo pesquisa da revista Newsweek, apenas 37% dos americanos votariam num ateu para presidente. É normal nos EUA, onde 87% da população diz "nunca duvidar" da existência de Deus e imagina que ateus são intolerantes, imorais e cegos para a beleza da natureza. Em vista disso, é importante derrubar mitos. Este artigo foi publicado originalmente no jornal Los Angeles Times.

IGNORÂNCIA DOS BENEFÍCIOS
Diz-se que os ateus ignoram o fato de que a religião é benéfica para a sociedade. Os que sublinham isso parecem nunca perceber que tais efeitos não conseguem demonstrar a verdade de nenhuma doutrina religiosa. Além disso, na maioria dos casos, parece que a religião dá às pessoas más razões para se comportar bem. O que é mais moral: ajudar os pobres por se preocupar com seu sofrimento ou ajuda-los por acreditar que o Criador quer que você o faça e o recompensará por fazê-lo ou o punirá por não fazê-lo?

SEM BASE MORAL
Alegam que o ateísmo não oferece base para a moralidade. Se uma pessoa ainda não entendeu que a crueldade é errada, não descobrirá isso lendo a Bíblia ou o Alcorão – já que esses livros transbordam de celebrações da crueldade, tanto humana quanto divina. Não tiramos nossa moralidade da religião. Decidimos o que é bom recorrendo a instituições morais embutidas em nós e refinadas por milhares de anos de reflexão sobre as causas e possibilidades da felicidade humana.

NÃO VÊEM O SENTIDO DA VIDA
Pelo contrário: são os religiosos que se preocupam freqüentemente com a falta de sentido da vida e imaginam que ela só pode ser redimida pela promessa da felicidade eterna no além. Os ateus tendem a ser bastante seguros quanto ao valor da vida. A vida é imbuída de sentido ao ser vivida de modo real e completo. Nossas relações com aqueles que amamos têm sentido agora; não precisam durar para sempre para tê-lo.

CULPADOS POR CRIMES
As pessoas de fé alegam com freqüência que crimes de Hitler, Stalin e Mao foram produto inevitável da descrença. Mas o problema do fascismo e do comunismo é que são parecidos demais com religiões. Regimes assim são dogmáticos ao extremo e originam cultos à personalidade indistinguíveis da adoração religiosa. Campos de extermínio não são exemplos do que acontece quando os seres humanos rejeitam o dogma religioso; são exemplos de dogmas político, racial e nacionalista.

ARROGÂNCIA
Quando os cientistas não sabem alguma coisa, eles admitem. Na ciência, fingir saber o que não se sabe é falha grave. Mas isso é o sangue vital da religião. Uma das ironias do discurso religioso é a freqüência com que as pessoas de fé se vangloriam de sua humildade e, ao mesmo tempo, alegam saber fatos sobre cosmologia, química e biologia que nenhum cientista conhece. Quando consideram questões sobre a natureza do cosmos, ateus tendem a buscar suas opiniões na ciência. Isso não é arrogância. É honestidade intelectual.

PAPEL NA CIÊNCIA
Há quem diga que o ateísmo não tem ligação com a ciência. Embora seja possível ser um cientista e ainda acreditar em Deus, não há dúvida de que um envolvimento com o pensamento científico tende a corroer, e não a sustentar, a fé. Tomando a população dos EUA como exemplo: quase 90% do público em geral acredita num Deus pessoal; mas 93% dos membros da Academia Nacional de Ciências não acreditam.

FECHADOS À ESPIRITUALIDADE
Nada impede os ateus de experimentarem o amor, o êxtase, o arrebatamento e o temor. O que eles não tendem a fazer são afirmações injustificadas sobre a natureza da realidade com base nessas experiências. Não há dúvida de que alguns cristãos mudaram suas vidas para melhor lendo a Bíblia e rezando. O que isso prova? Prova que certas regras e códigos de conduta podem exercer um efeito profundo sobre a mente humana. Tais experiências positivas dos cristãos sugerem a existência de Deus? Nem remotamente, uma vez que hindus, budistas, muçulmanos – e até mesmo ateus – vivenciaram experiências similares.

NADA ALÉM DA VIDA
Dizem que, para os ateus, não há nada além da vida e do entendimento humano. Mas é óbvio que não entendemos o universo completamente; e é ainda mais óbvio que nem a Bíblia nem o Alcorão refletem nosso melhor entendimento do universo. Não sabemos se há vida complexa em outro lugar do cosmos, mas pode haver. Se houver, esses seres podem ter desenvolvido uma compreensão das leis da natureza que excede a nossa. Os ateus podem considerar essas possibilidades e admitir que, se existem extraterrestres, os conteúdos da Bíblia e do Alcorão serão para eles pouco impressionantes. Do ponto de vista ateísta, as religiões do mundo banalizam a verdadeira beleza e a verdadeira imensidão do universo. Não é preciso aceitar nada com base em provas insuficientes para fazer tal observação.

DOGMATISMO ATEÍSTA
Religiosos afirmam que suas escrituras só poderiam ter sido registradas sob orientação de uma divindade onisciente. Um ateu é simplesmente alguém que considerou esta afirmação, leu os livros e concluiu que ela é absurda. Não é preciso ser dogmático para rejeitar crenças religiosas injustificadas. Como disse o historiador Stephen Henry Roberts (1901-71): "Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu".

domingo, 19 de agosto de 2007

Os sonhos dos adolescentes (Contardo Calligaris)

Se tivesse que comparar os jovens de hoje com os de dez ou vinte anos atrás, resumiria assim: eles sonham pequeno. É curioso, pois, pelo exemplo de pais, parentes e vizinhos, nossos jovens sabem que sua origem não fecha seu destino: sua vida não tem que acontecer necessariamente no lugar onde nasceram, sua profissão não tem que ser a continuação da de seus pais. Pelo acesso a uma proliferação extraordinária de ficções e informações, eles conhecem uma pluralidade inédita de vidas possíveis.

Apesar disso, em regra, os adolescentes e os pré-adolescentes de hoje têm devaneios sobre seu futuro muito parecidos com a vida da gente: eles sonham com um dia-a-dia que, para nós, adultos, não é sonho algum, mas o resultado (mais ou menos resignado) de compromissos e frustrações. Eles são “razoáveis”: seu sonho é um ajuste entre suas aspirações heróico-ecológicas e as “necessidades” concretas (segurança do emprego, plano de saúde e aposentadoria).

Alguém dirá: melhor lidar com adolescentes tranqüilos do que com rebeldes sem causa, não é? Pode ser, mas, seja qual for a qualidade dos professores, a escola desperta interesse quando carrega consigo uma promessa de futuro: estudem para ter uma vida mais próxima de seus sonhos. É bom que a escola não responda apenas à “dura realidade” do mercado de trabalho, mas também (talvez, sobretudo) aos devaneios de seus estudantes; sem isso, qual seria sua promessa? “Estude para se conformar?” Conseqüência: a escola é sempre desinteressante para quem pára de sonhar.

É possível que, por sua própria presença maciça em nossas telas, as ficções tenham perdido sua função essencial e sejam contempladas não como um repertório arrebatador de vidas possíveis, mas como um caleidoscópio para alegrar os olhos, um simples entretenimento. Os heróis percorrem o mundo matando dragões, defendendo causas e encontrando amores solares, mas eles não nos inspiram: eles nos divertem, enquanto, comportadamente, aspiramos a um churrasco no domingo e uma cerveja com os amigos.

É também possível (sem contradizer a hipótese anterior) que os adultos não saibam mais sonhar muito além de seu nariz. Ora, a capacidade de os adolescentes inventarem seu futuro depende dos sonhos aos quais nós renunciamos. Pode ser que, quando eles procuram, nas entrelinhas de nossas falas, as aspirações das quais desistimos, eles se deparem apenas com versões melhoradas da mesma vida acomodada que, mal ou bem, conseguimos arrumar. Cada época tem os adolescentes que merece.

sábado, 11 de agosto de 2007

O homem profano (Huberto Rohden)

O homem profano não sai do plano horizontal, que se apresenta sob inumeráveis formas – dinheiro, política, prazeres, ambição, comércio, indústria, ciência, arte, filantropia, organização social; joga com fatores meramente quantitativos, de superfície, em que ele vê o “real”, e até a própria “Realidade”, e por isso se considera ele um “realista”; real, solidamente real, é para ele tudo que é objetivo, quantitativo, o que se pode ver, ouvir, tanger, pesar, medir, numerar, tudo que tem forma e cor; irreal é para o profano o resto, o mundo da qualidade, não sujeito a tempo e espaço. Mas, como há certas conveniências e convenções que mandam crer nesse mundo da qualidade intangível, tolera o chamado “realista” os “idealismos” dos que se ocupam com essas coisas “irreais”, hasteia a bandeira da fé à fachada do edifício maciço do seu materialismo; e à sombra dessa bandeira do além realiza ele os interesses do aquém.

Se esse homem soubesse que ele é um grande “irrealista”, e que os chamados “idealistas” é que são os genuínos “realistas”!...

A mais decisiva e arrasadora descoberta que um homem pode fazer na vida presente é convencer-se experiencialmente de que o mundo horizontal, objetivo, das quantidades tangíveis, é um mundo feito de outros tantos zeros – ao passo que o mundo vertical, subjetivo, da qualidade, é com o algarismo “1”, que representa um valor autônomo, e possui, além disso, o estranho poder de valorizar os zeros que se colocarem à sua direita: 1.000.000; mas se colocarmos esses mesmos zeros à esquerda do valor autônomo “1”, este vai perdendo parte do seu valor: 000.000.1.

O homem profano é tão míope ou cego que passa a vida inteira colecionando zeros e, quando acumulou milhões desses lindos zeros, pequenos ou grandes, então se julga seguro, embora não desista jamais de aumentar o seu museu de nulidades, por sinal que não crê na sua segurança.

Desistir dessa alucinante política de “zeros” e abraçar a gloriosa sabedoria do grande “Um” – com ou sem zeros – é esse o passo decisivo na vida de todo homem terrestre; e é aqui que está a invisível linha divisória entre as duas humanidades que habitam este globo: a humanidade profana dos insipientes e a humanidade sagrada dos sapientes.

O primeiro passo para essa suprema sapiência é a mística, que consiste na intuição do valor do “1” espiritual e na subseqüente fuga de todos os “000” das materialidades circunjacentes, às quais a sociedade dá incessante caça e em cujo nome são cometidos os maiores crimes.

A parábola da ponte (Henrique Rattner)

A globalização que varre o planeta produziu uma série de paradoxos e incertezas para a maioria das pessoas. Aumentaram a produção e comércio mundial; as distâncias entre países e continentes foram encurtadas pelos vôos a jato que alcançam uma velocidade de 1.000 km por hora. Os meios de comunicação via satélite e computadores permitem transações financeiras instantâneas, tirando enorme vantagem das diferenças de fuso-horário.

Seria de esperar que essas maravilhas tecnológicas, além da aproximação geográfica entre os povos, coincidissem com a difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos e, sobretudo, dos padrões de convívio social das sociedades mais abertas, esclarecidas, cooperativas e democráticas.

O panorama da situação real é bem diferente. A globalização acelera, violentamente, os processos de desestruturação das comunidades tradicionais. A industrialização, a expulsão de populações de suas terras e a rápida urbanização nos países, outrora chamados “Terceiro Mundo” e hoje, “Emergentes”, desequilibram e alteram profundamente as relações de homens para homens e dos homens para com a natureza.

A destruição dos laços de solidariedade tradicionais e da estabilidade de famílias e comunidades resulta nas migrações para as cidades, despreparadas política, administrativa e economicamente para absorver as massas de migrantes. Essas ficam encurraladas e segregadas em dezenas de milhares de favelas, sem qualquer perspectiva de romper o “círculo vicioso” da pobreza, ignorância e violência. À medida que indivíduos perdem suas raízes, suas casas, terras, parentes e amigos, cresce o que David Riesman chamou de The Lonely Crowd, A Massa Solitária, que segue como um rebanho de ovelhas seu pastor armado com um cajado, seja ele falso profeta, líder carismático, ou simplesmente demagogo populista, lembrando a obra de Elias Canetti (Massa e Poder). A cada dia, fica mais difícil o indivíduo responder: “quem sou, onde pertenço e qual é meu destino?”

No passado, com relações sociais mais estáveis, seja no regime escravagista ou feudal, os indivíduos nasciam, viviam e morriam dentro de suas comunidades, sua classe e seu credo religioso, fossem eles escravos durante o regime colonial, servos no feudalismo ou operários no sistema capitalista.

As migrações para as grandes cidades destruíram os laços tradicionais de cooperação e solidariedade “mecânica” (segundo E. Durkheim). Esperanças de mobilidade geográfica e social levaram ao abandono do campo, em busca de inserção na economia de mercado, cuja divisão social de trabalho levaria à solidariedade “orgânica” (sempre segundo E. Durkheim). Mas, as cidades, longe de serem lugares de liberdade, se tornam, para muitos dos migrantes, uma armadilha, por falta de acesso a empregos estáveis e serviços de educação e saúde, sobretudo para adolescentes e jovens. Vivendo na miséria, segregados e sem esperança de mobilidade social, os jovens engrossam as fileiras da delinqüência, do narcotráfico, da prostituição e da criminalidade. Concentrada em áreas de extrema pobreza, sem infra-estrutura, educação escolar e serviços de saúde, a vida nas favelas lembra o livro escrito por Jack London, The People of the Abyss – o Povo do Abismo, no início do século passado.

A insegurança e o medo levam também a classe média e as elites a se isolarem e refugiarem atrás de muros e grades, a andarem em carros blindados e a protegerem-se com inúmeros guardas particulares. Mas todas essas medidas não conseguem conter o aumento da violência urbana, particularmente nas metrópoles que se tornaram arenas de conflitos que devoram seus próprios habitantes, lembrando as palavras de Thomas Hobbes – “homo homini lupus”. Confusos, perplexos e perdidos nesse mundo de competição selvagem, é freqüente os indivíduos se interrogarem sobre os rumos da sociedade e de suas vidas.

A falta de perspectiva e a perda dos laços de pertencimento corroem os valores e as instituições tradicionais como pátria, partido, igreja. Esses parecem ignorantes ou descrentes de sua missão civilizatória.

As interrogações sobre o destino e o sentido da vida são próprias da espécie humana desde a Antigüidade. No passado, sacerdotes, filósofos ou governantes tentaram responder a essas perguntas, cujas respostas refletem a rica diversidade cultural da Humanidade.

A Idade da Razão e do Iluminismo, nos séculos XVII e XIX, prometia a emancipação dos indivíduos e, também, o progresso das sociedades. Contudo, perdidos na massa “solitária”, os indivíduos tropeçam, caem e sofrem da angústia existencial, no mundo das incertezas. Os afortunados que conseguem um emprego sofrem do ritmo infernal de trabalho e das exigências cada vez mais duras dos chefes, superiores e executivos que buscam, freneticamente, mais produtividade e competitividade.

Às vezes, os mais “afortunados” entre os deserdados e marginalizados são objeto de um assistencialismo populista que distribui esmolas, como política de “compensação”. Que futuro espera essas populações desenraizadas, desempregadas, desabrigadas e alienadas, nominalmente livres em sociedades de democracia formal? Na realidade crua e nua elas são presas numa malha de relações sociais, em que uma minoria poderosa desemprega, oprime e explora os “de baixo”. As elites econômico-financeiras e políticas usurpam e arrogam-se os direitos de falar e decidir em nome de todos.

Até a OMC – Organização Mundial de Comércio e outras instituições financeiras internacionais, outrora paladinos da liberalização, da abertura dos mercados, em benefício da globalização e de suas “maravilhas” tecnológicas, hoje, admitem que esta pode ser não tão vantajosa para a criação de novos empregos e assim, proporcionar uma qualidade de vida decente para todos, sobretudo nos países pobres e mesmo “emergentes”, nos quais a maioria da população sobrevive vegetando precariamente no setor informal.

As terras, as águas e outras riquezas adquiridas, muitas vezes, ilicitamente, continuam a ser apropriadas e desigualmente distribuídas pelas elites, que ostentam e vivem na opulência, com consumo de luxo e, às vezes, na depravação. Confusos, perplexos e amedrontados pela falta de emprego, pela concentração contínua das indústrias, das terras, das finanças e a destruição impiedosa do meio ambiente, até os membros da classe média se interrogam sobre seu destino e o do mundo. Qual seria a saída do caos, da pobreza e da violência reinantes em nossa sociedade?

Alguns tentam encontrar uma resposta individual, na carreira e na ascensão social. Outros procuram retirar-se, tal como os monges tibetanos e os eremitas seculares, do resto do mundo, praticando a meditação. Outros procuram ingressar nas fileiras da oligarquia reinante, enquanto outros ingressam no submundo do crime de “colarinho branco”, através da corrupção, sonegação de impostos e tributos, até o tráfico e consumo de drogas.

Assim, a busca individual de respostas para os dilemas existenciais é um beco sem saída. Contrariamente à ideologia proclamada e enaltecida pelo regime capitalista, a espécie humana, desde que apareceu no planeta, é gregária, cooperativa e solidária. Para sobreviver, precisamos uns dos outros, para produzir os meios de subsistência e organizar a vida coletiva, na defesa contra desastres naturais e sociais, através do desenvolvimento de uma cultura de cooperação e de paz.

Outrora, os místicos cabalistas, quando pressionados pelos discípulos para explicar o significado da vida e o destino do mundo, costumavam responder com uma parábola: “O mundo todo é uma ponte, uma ponte muito estreita”. De onde ela vem? Não o sabemos. E onde ela nos leva – tampouco sabemos. Mas viver e cumprir a missão existencial significa atravessar a ponte.

Por ser muito estreita, muitos não conseguem subir na ponte e outros caem no abismo ao empreender a longa caminhada, freqüentemente vítimas de conflitos e guerras.

Altas taxas de mortalidade infantil, endemias, epidemias e doenças causadas por subnutrição, ou ingestão de substâncias tóxicas, ceifam a vida de milhões a cada ano. O desamparo e a dispersão devido à migração de famílias são agravadas por desemprego ou subemprego e reduzem, dramaticamente, a expectativa de vida de centenas de milhões de pessoas no mundo.

Para procurarmos, coletivamente, um sentido para nossa vida, devemos, primeiro, definir “que tipo de sociedade queremos?”. Somente quando tivermos visão e clareza sobre os rumos e o significado da vida, poderemos participar da construção de pontes para todos os seres humanos, independentemente de idade, credo religioso, gênero, classe social, raça ou cor. Assim, criaremos um mundo de bem estar, harmônico, justo e solidário para todos.

domingo, 5 de agosto de 2007

A verdadeira dívida externa (Guaicaipuro Cautémoc)

Eu, Guaicaipuro Cautémoc, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, vim aqui encontrar os que nos encontraram há apenas 500 anos.

O irmão advogado europeu me explica que aqui toda dívida deve ser paga, ainda que para isso se tenha que vender seres humanos ou países inteiros.

Pois bem! Eu também tenho dívidas a cobrar. Consta no arquivo das Índias Ocidentais que entre os anos de 1503 e 1660, chegaram à Europa 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata vindos da minha terra!... Teria sido um saque? Não acredito. Seria pensar que os irmãos cristãos faltaram a seu sétimo mandamento.

Genocídio?... Não. Eu jamais pensaria que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue de seu irmão.

Espoliação?... Seria o mesmo que dizer que o capitalismo deslanchou graças à inundação da Europa pelos metais preciosos arrancados de minha terra!

Vamos considerar que esse ouro e essa prata foram o primeiro de muitos empréstimos amigáveis que fizemos à Europa. Achar que não foi isso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que me daria o direito de exigir a devolução dos metais e a cobrar indenização por danos e perdas.

Prefiro crer que nós, índios, fizemos um empréstimo a vocês, europeus.

Ao comemorar o quinto centenário desse empréstimo, nos perguntamos se vocês usaram racional e responsavelmente os fundos que lhes adiantamos.

Lamentamos dizer que não.

Vocês dilapidaram esse dinheiro em armadas invencíveis, terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo. E acabaram ocupados pelas tropas da OTAN.

Vocês foram incapazes de acabar com o capital e deixar de depender das matérias primas e da energia barata que arrancam do terceiro mundo.

Esse quadro deplorável corrobora a afirmação de Milton Friedmann, segundo o qual uma economia não pode depender de subsídios.

Por isso, meus senhores da Europa, eu, Guaicaipuro Cautémoc, me sinto obrigado a cobrar o empréstimo que tão generosamente lhes concedemos há 500 anos. E os juros.

É para seu próprio bem.

Não, não vamos cobrar de vocês as taxas de 20 a 30 por cento de juros que vocês impõem ao terceiro mundo.

Queremos apenas a devolução dos metais preciosos, mais 10 por cento sobre 500 anos.

Lamento dizer, mas a dívida européia para conosco, índios, pesa mais que o planeta Terra!... E vejam que calculamos isso em ouro e prata. Não consideramos o sangue derramado de nossos ancestrais!

Sei que vocês não têm esse dinheiro, porque não souberam gerar riquezas com nosso generoso empréstimo.

Nas há sempre uma saída: entreguem-nos a Europa inteira, como primeira prestação de sua dívida histórica.

domingo, 29 de julho de 2007

Custo do Congresso Brasileiro (Transparência Brasil)

O Congresso brasileiro é o mais caro por habitante, segundo levantamento da Transparência Brasil sobre os Orçamentos do Legislativo federal em 11 outros países. Apenas o Congresso dos Estados Unidos é mais caro que o brasileiro, mas ainda assim pesa menos no bolso de cada cidadão do país.


A pesquisa da Transparência Brasil comparou o orçamento do Congresso brasileiro com os da Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, México e Portugal.


Em 2007, o Brasil destinou para a manutenção do mandato de cada um de seus 594 parlamentares federais quase quatro vezes a média do gasto dos parlamentos europeus e do canadense. Pelos padrões europeus de gasto parlamentar, o orçamento do Congresso brasileiro – equivalente a R$ 11.545,04 por minuto – poderia manter o mandato de 2.556 integrantes.


Se for levado em conta o custo absoluto do Congresso brasileiro por habitante (R$ 32,49), ele seria o terceiro mais caro do mundo, atrás do italiano (R$ 64,46) e do francês (R$ 34,00). O Brasil fica mais caro, porém, se for calculado o peso desse custo no bolso de cada habitante por duas medidas importantes para comparar economias nacionais – o salário mínimo e o PIB per capita. No Brasil, gasta-se dez vezes, em relação ao salário mínimo, o que se gasta na Alemanha ou no Reino Unido. Comparado ao PIB per capita, o gasto nacional é mais de oito vezes maior que o espanhol.


O mandato de cada parlamentar brasileiro custa hoje 2.068 salários mínimos, mais que o dobro do que ocorre no México, segundo colocado entre os países pesquisados, e 37 vezes o gasto proporcional ao salário mínimo registrado na Espanha.


Embora não tenham sido levantados neste estudo os custos diretos do mandato – salário, benefícios, assessores e verbas indenizatórias –, é possível comparar os gastos verificados na Câmara dos Deputados (R$ 101 mil mensais) aos da Câmara dos Comuns britânica (R$ 600 mil por ano). Cada parlamentar brasileiro consome mais do que o dobro de um parlamentar de um país em que a renda per capita e o custo de vida são muito superiores aos do Brasil.


Mesmo se não houvesse Senado – a Casa mais cara do mundo por membro, segundo o levantamento –, o Brasil ainda teria um dos Legislativos mais caros existentes. O Orçamento de um Congresso unicameral seria menor que o do Parlamento italiano, o terceiro da lista.


O levantamento reforça a percepção de que os integrantes das Casas legislativas brasileiras perderam a noção de proporção entre o que fazem e o país em que vivem.

Águia ou galinha? (James Aggrey)

História contada por James Aggrey, político e educador em Gana, numa reunião de lideranças populares, que discutiam os caminhos de libertação do domínio colonial inglês.

"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e rações próprias para galinhas, embora a águia fosse a rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

– Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.

– De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.

– Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração fará um dia voar às alturas.

– Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:

– Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!

A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou:

– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!

– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.

O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:

– Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!

A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...".

E Aggrey terminou conclamando:

“Irmãos e irmãs! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muito de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.”

sábado, 21 de julho de 2007

Reflexões sobre as causas de desastres do capitalismo (Bernardo Kucinski)

Vão dizer que eu estou exagerando. Lá vem ele de novo, culpando o capitalismo por tudo, até mesmo por essa fatalidade que foi a tragédia do avião da TAM. Além do mais, causada provavelmente pela condição da pista, negligência da Infraero, ou seja, culpa do Lula...

Mas será que o exagero não está em atribuir um acidente desse porte a uma pista apenas molhada num dia de chuva leve? Houve certamente uma causa material, específica, ou um conjunto de causas. E a pista pode ter sido uma delas. Mas só a pista não explica o desastre. Houve dezenas de outras decolagens e aterrissagens debaixo de chuva na mesma pista.

O grande desastre com o Concorde em agosto de 2000, que levou ao abandono desse supersônico três anos depois, também aconteceu por uma seqüência incrível de causas: a primeira delas, um pequeno pedaço de metal desprendido de um pneu numa decolagem anterior e que passou desapercebido na varredura de rotina da pista.

Há outro elemento comum entre os desastres do Concorde e do Airbus: o gigantismo dos aviões. O Concorde era um gigante com capacidade de 100 passageiros e 185 toneladas na decolagem. Foi derrubado por um pedaço de arame, não por causa do tamanho do arame, por causa do tamanho do avião. O Airbus 320 também é um gigante. Pode decolar com até 77 toneladas.

Os engenheiros dizem que ele precisa de 2.200 metros de pista para pousos com margem razoável de segurança. A pista de Congonhas tem 1939 metros. Dá para pousar. Pousou inúmeras vezes. E tudo indica que o desastre não aconteceu por causa do tamanho da pista ou da condição da pista. O avião nem conseguiu frear, portanto nem chegou a derrapar.

Mas a permissão para o Airbus operar em Congonhas, sem muita margem de segurança, não é mero acaso, é uma imposição do mercado. Da voracidade da demanda por assentos em vôos regionais. Da ganância. O Concorde também nasceu de pesquisas de mercado. Surgiu no apogeu das multinacionais americanas. Tomar o café da manhã em Nova York e almoçar em Paris, mesmo voando contra o fuso horário. Essa era a idéia. Uma demanda do mercado.

Na década de 70, sucediam-se desastres com navios petroleiros. Colidiam com terminais e outros navios, provocando derrames enormes de óleo, matando peixes, poluindo quilômetros de praias. Cada desastre tinha sua causa específica ou conjunto de causas. Mas o fator comum a todos eles era o tamanho dos petroleiros, gigantes de até 400 mil toneladas, verdadeiros Titanics possuídos de tanta inércia que uma correção de rumo tinha que ser decidida um dia antes. A maioria eram petroleiros de bandeira liberiana; artifício usado pelos armadores para manter tripulações mínimas e burlar rigores de fiscalização. Ganância da indústria do petróleo, a serviço da voracidade americana por petróleo barato do Oriente Médio.

Seis anos atrás, um incêndio eclodiu a maior das plataformas marítimas da Petrobrás, a P-37, do campo de Roncador. Seguiram-se explosões. Morreram dez operários e a plataforma foi totalmente perdida. O desastre teve causas específicas. Ventilação deficiente, despreparo no combate ao fogo. Mas o fator sistêmico do desastre foi a terceirização da exploração de petróleo para reduzir custos trabalhistas e, de quebra, enfraquecer os sindicatos dos petroleiros, vistos pela direção neoliberal da Petrobrás como uma “elite” operária. Neoliberalismo e ganância.

No começo deste ano, rompeu-se uma barragem da mineradora Rio Pomba, em Minas, inundando e enlameando seis cidades, rio abaixo, até o Estado do Rio de Janeiro. O desastre teve causas específicas, a principal delas a forte concentração de chuvas naqueles dias. Mas o fato é que a barragem de oito metros de altura e capacidade para 200 milhões de litros foi construída sem licença ambiental e não possuía mecanismos para o escoamento. Economia, ganância e negligência do Estado, esvaziado por décadas de neoliberalismo.

Em janeiro deste ano, um desabamento engoliu sete pessoas nas obras da linha 4 do metrô de São Paulo. Um grande desastre. Certamente provocado por causas específicas. Talvez, erros nos índices de estabilidade do solo ou na aplicação das camadas de cimento do túnel, agravadas pelo recurso a explosões como método de escavação. O consórcio tinha pressa. As mesmas empresas iriam depois operar a linha 4 em regime de concessão. Havia prêmios de desempenho para as subcontratadas que ganhassem tempo no cronograma de trabalhos. O Estado olhava para o outro lado, porque também tinha interesse político numa inauguração antes das eleições municipais de 2008. O menor tempo teve preferência sobre a maior segurança. Política, ganância e negligência do Estado.

A tragédia com o avião da Gol, impossível estatisticamente de acontecer, no entanto aconteceu por um somatória incrível de causas específicas. Nenhuma delas sozinha teria levado à colisão. E mais: bastava uma delas não ter acontecido para não ter havido colisão. Aquilo, sim, foi um a tragédia em que o acaso falou mais alto. Mesmo assim, houve influência de pelo menos um fator sistêmico: o regime de trabalho dos controladores de vôo, em número insuficiente para o mercado que cresceu rapidamente. Duas décadas de neoliberalismo, impediram que Estado contratasse mais servidores, que fizesse concursos públicos. Seu mote era terceirizar e privatizar. Esvaziar o aparelho de Estado. Enquanto isso, o transporte aéreo crescia e crescia. Negligência e neoliberalismo.

Querem que eu continue? Ou vamos parar por aí?

Os mortos Pan-Americanos (Sandra Carvalho e Fernando Delgado)

Em vez de contagem de medalhas, estamos contando corpos. Infelizmente, parece que o Rio 2007 será lembrado mais pelos seus mortos do que pelos jogos. As mesmas forças policiais que pretendem dar segurança ao Pan são responsáveis por invasões de comunidades, e já levaram à morte, no mínimo, 44 pessoas no Complexo do Alemão: são os mortos pan-americanos. No Brasil, o chamado espírito olímpico é fatal.


Mega eventos iguais ao Pan têm históricos violentos. O governo mexicano matou 25 estudantes que protestavam pacificamente contra o autoritarismo do governo no início das Olimpíadas de 1968, no que ficou conhecido como Massacre de Tlatelolco. No dia da abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2003, a polícia da República Dominicana atirou em um grupo de sindicalistas que organizavam uma "Tocha contra a Fome". Em 2006, o Vietnam fez uma campanha de "limpeza social" com detenções em massa, recolhimento forçado de crianças e outros abusos contra sua população de rua, tudo por causa do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.


Existem outros exemplos. No Rio de Janeiro, além das violações de direitos durante a ECO 92, a cada Carnaval a "Operação Verão" traz seus excessos policiais. No dia-a-dia, autoridades municipais e estaduais vêm realizando uma "limpeza social" silenciosa, através, por exemplo, do recolhimento arbitrário de crianças na "Operação Turismo Seguro" e na destruição de pertences dos moradores de rua na "Operação Cata-Tralha”.


No histórico comparativo de violência institucional durante mega eventos no mundo, o Brasil se destaca pelo alto número de pessoas mortas: 44 mortos do Complexo do Alemão. As autoridades policiais conseguiram, inclusive, agregar maior crueldade aos seus já conhecidos abusos: revistar crianças sob a mira de fuzil em comunidades pobres. Se essas mortes e abusos policiais ficarem impunes, resta a evidente e direta responsabilidade do secretário de Segurança Pública e do governador do Estado.


Às execuções cometidas por esquadrões da morte (no passado), pelo tráfico, pelas milícias e grupos de extermínio, soma-se esse elevado padrão de letalidade policial, onde a execução sumária adquire um caráter supostamente “legal” ao ser registrada como auto de resistência. Entramos na era do Caveirão, afinal. O Estado não esconde mais sua violência. Ele se orgulha. A polícia invade as comunidades a bordo de blindados com símbolo de caveira anunciando "Eu vou pegar sua alma". Trata-se do projeto de criminalização da pobreza, que associa o morador de favelas à criminalidade e assume o número de mortos como um resultado positivo, como critério de eficiência policial.


Que vergonha! Pela criminalização da população negra e pobre; por utilizar violência policial como suposta solução de enfrentamento da criminalidade; por gastar bilhões com o Pan, enquanto milhões de pessoas moram em barracos; por executar seus cidadãos: que vergonha! É esse o chamado legado social do Pan, ou “pandemônio”, como o evento ficou conhecido em grande parte das comunidades pobres.

domingo, 15 de julho de 2007

Odeio os indiferentes (Antonio Gramsci)

Odeio os indiferentes. Acredito que viver significa tomar partido. Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história, opera potentemente, opera passivamente, mas opera. É a fatalidade com a qual não se pode contar. Torce os programas e arruína os planos melhores concebidos. É a matéria bruta desbaratadora da inteligência. Mas o que acontece é porque a massa dos homens abdica de sua vontade, deixa de fazer, permitindo a promulgação de leis, que depois serão derrogadas somente por uma revolta, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação é que poderá derrubá-los.

A massa ignora por despreocupação, e então parece ser a fatalidade que arrasta tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade teria sucedido o que sucedeu?

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e, sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas.

Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela, emboscado, enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido. Odeio os indiferentes.

O amor (Carlos Drummond de Andrade)

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino, o amor.

Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite... Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... Se você preferir morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

domingo, 8 de julho de 2007

Patrimônios da humanidade (Cristovam Buarque)

Durante um encontro no Hotel Hilton, o senador Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O universitário estadunidense que fez a pergunta pediu ao senador que respondesse como humanista, não como brasileiro. Eis a resposta:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.

Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de comer e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças, tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Mais até do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!".