domingo, 1 de janeiro de 2012

Bate neles, Rubinho! (Ernesto Rodrigues)

Já não faz mais sentido, para muita gente, a essa altura do campeonato, tentar conter o linchamento midiático a que Rubens Barrichello vem sendo submetido desde a véspera da canonização de Felipe Massa, no Grande Prêmio do Brasil. A maioria dos brasileiros não quer mais saber de Rubens e, em vez de gratidão e homenagem, no momento em que ele luta de forma angustiante para permanecer na Fórmula 1, diverte-se com novas piadas. Tudo bem: faz parte do jogo e Barrichello, nós sabemos, tem sua parcela de responsabilidade nesse melancólico canto de cisne que se desenha.

Nessas circunstâncias, poucos terão boa vontade para lembrar que Rubens foi duas vezes vice-campeão, obteve nove vitórias e protagonizou alguns momentos memoráveis em sua passagem pela Fórmula 1, principalmente quando a pista esteve molhada. Menos ainda para ponderar que Barrichello dividiu boa parte de seus dias na categoria com Schumacher, um gênio que só fez atrapalhar sua carreira, suas estatísticas e, principalmente, suas cláusulas contratuais com a Ferrari.

Na fila do incenso para Massa, pouca gente terá paciência de admitir que ele, Felipe, já não tem a dramática obrigação – aceita irresponsavelmente por Barrichello, diga-se – de substituir Senna no coração de milhões de brasileiros fulminados pela tragédia de Imola. Massa também não tem que enfrentar, como Rubens, o desejo intenso, mal-informado e imediatista de boa parte de nossa mídia por manchetes gloriosas como as de Ayrton e Nelson.

Sendo assim, não é absurdo sugerir a Barrichello que, pelo menos por uma vez, substitua aquele otimismo quase sempre desastrado – como o de sua virtual aposentadoria compulsória – por uma postura mais franca e reveladora. Em outras palavras, sugiro o seguinte: Bate, Rubinho!

Sai batendo com vontade!

Não se dissolva, dessa vez, diante dos microfones brasileiros!

Conte o que era pilotar uma Jordan-Yamaha nos tempos da Williams-Renault e demonstre o ridículo que era – e é – cobrar de você o desempenho que Senna tinha nos tempos de McLaren. Conte em detalhes a sacanagem monumental de Flavio Briatore, traindo na véspera um contrato pelo qual você dividiria a Benetton-Renault com Jean Alesi.

Bate, Rubinho! Revele os muitos coices que tomou do famoso cavalino rampante de Maranello. Dê detalhes da hipocrisia da Ferrari em atribuir, ao seu “ângulo de ataque” da zebra, aquela gravíssima quebra de suspensão no final da reta de Hungaroring. Divida, com os que torceram por você, os bastidores da vergonhosa tirada de pé para o alemão em Zeltweg.

E bate mais, Rubinho!

Relacione os que embarcaram contigo no ingênuo e desastroso projeto de “substituir” Senna e hoje fingem não ter feito parte dele. Mostre como a imprensa brasileira, com poucas exceções, foi desinformada, oportunista e leviana, no exagero de suas derrotas e na injustiça com seus bons resultados. E mande, pelo menos uma vez, de boca cheia, para a puta que os pariu, os humoristas que se fizeram com suas desgraças.

Explique, ainda, para quem te chama de banana, o que significa desintegrar um carro no alambrado de Imola, morrer por alguns segundos com a língua enrolada na garganta, e voltar a treinar, rápido, dias depois, num carro de Fórmula 1, enquanto todos ainda tentavam se recuperar das tragédias de Senna e Ratzenberger.

Finalmente, depois de bater muito, diga adeus à Fórmula 1, Rubinho.

E seja feliz, que você merece.