domingo, 20 de junho de 2010

Torço contra porque sou brasileiro (Bruno Momesso Bertolo)

A ocasião é mais do que oportuna para o presente artigo. É época de Copa do Mundo, o maior evento esportivo mundial. Sem dúvida, todos os países e seus habitantes acompanham tal acontecimento, pouco importando se a pessoa é ou não um fervoroso fã de futebol. Todavia, a relevância excepcional dada ao Mundial de Futebol em nosso país muito me preocupa.

A população entra em verdadeiro estado de hipnose. Os meios de comunicação não noticiam outro assunto. O mundo parece parar em pleno ano eleitoral. É claro que é algo que perdura durante um mês, mas as conseqüências podem ser permanentes ou por anos.

Desde a ditadura o futebol é utilizado como instrumento de alienação política. Sem querer entrar no aspecto político – afinal, sou apartidário e voto nulo –, Lula, assim como outros Presidentes da República, já afirmou que posará ao lado da seleção em caso de hexacampeonato. E isso certamente interferirá nos rumos das eleições que se aproximam. Seria cômico se não fosse trágico! Lamentavelmente, a maioria da população não possui discernimento para separar o (pseudo) sentimento de patriotismo e a alegria por um título de outras questões, acreditando que tudo está excelente em decorrência da euforia fomentada pela televisão.

Comecei a torcer contra a seleção de futebol após a Copa de 1994. Vibrei com o tetra. Tinha apenas 12 anos, mas o retorno dos jogadores despertou em mim uma profunda reflexão. Neste ponto, é necessária uma retrospectiva. Quando pousaram no Brasil, descobriu-se que os atletas trouxeram inúmeros eletrodomésticos que não passaram pela alfândega, ao arrepio do que determina a legislação. Ao serem indagados a respeito, alguns alegaram que tal benefício era o mínimo que poderiam receber pela conquista. Noutras palavras, se julgam acima da lei e melhor que os demais brasileiros.

Desde então, torço contra. Não só pelo ocorrido em 1994, pois poderia ser um fato isolado. Há outros fatores que sopesei no decorrer dos anos.

Um deles é o favorecimento do futebol em detrimento de outras modalidades esportivas. Os futebolistas sempre possuem verbas sobrando, se fixam em hotéis luxuosos, têm inúmeros patrocinadores etc. Enquanto isso, diversos atletas de outros esportes enfrentam dificuldades que, não raro, até os impedem de participar de um mundial ou de prosseguir na carreira. Tais circunstâncias explicam, em grande parte, porque temos desempenho ridículo em Olimpíadas, ao passo que países bem menores e menos populosos se posicionam à nossa frente.

Ademais, a meu ver, os futebolistas não se dedicam da mesma forma com que o fazem em seus clubes, isso quando não se ufanam acreditando que são os melhores e que o favoritismo lhes dará a vitória. A arrogância, a prepotência e o narcisismo ultrapassam os limites toleráveis, a ponto de causar ojeriza e antipatia.

Se não bastasse, note-se ainda a recente e deplorável tentativa de impedir Didier Drogba, jogador da Costa do Marfim, de participar do confronto entre sua seleção e a brasileira, sob o falso argumento que a proteção utilizada no braço do marfinense poderia representar riscos aos demais participantes. O intuito real era alijar a Costa do Marfim de seu principal astro. Que mérito há em vencer assim, valendo-se do famigerado e nefasto tapetão? Um motivo a mais para torcer contra, seja quem for. Falta de desportividade é inaceitável!

Em suma, são estas as razões pelas quais torço contra a seleção brasileira de futebol. Torço contra porque sou brasileiro. Torço para quem quiser, independentemente da nacionalidade. Meu patriotismo não se resume ao futebol. E nem poderia. Patriotismo é algo deveras amplo para se restringir a tamanha efemeridade e frivolidade que é uma Copa do Mundo de Futebol.

Pena que o brasileiro acredite que ostentar a bandeira nacional em jogos de futebol represente, por si só, civismo. Para mim, patriota é quem respeita as leis, cumpre seus deveres, trabalha com dedicação, procura construir um país melhor, ajuda o próximo etc.. Quando os políticos forem cobrados como os dirigentes de futebol o são pela torcida insatisfeita com uma derrota, nosso país certamente melhorará.

Almejo que o Brasil seja o país da honestidade, da saúde eficaz, da segurança pública presente, da habitação digna, do emprego estável, da educação universal etc. Mas há aqueles que preferem que sejamos a nação do futebol... Teria orgulho se nossas cinco estrelas fossem alusivas à qualidade de mencionadas áreas sociais. Porém, muitos preferem cinco títulos mundiais de futebol... É, gosto não se discute!