domingo, 15 de julho de 2007

Odeio os indiferentes (Antonio Gramsci)

Odeio os indiferentes. Acredito que viver significa tomar partido. Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história, opera potentemente, opera passivamente, mas opera. É a fatalidade com a qual não se pode contar. Torce os programas e arruína os planos melhores concebidos. É a matéria bruta desbaratadora da inteligência. Mas o que acontece é porque a massa dos homens abdica de sua vontade, deixa de fazer, permitindo a promulgação de leis, que depois serão derrogadas somente por uma revolta, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação é que poderá derrubá-los.

A massa ignora por despreocupação, e então parece ser a fatalidade que arrasta tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade teria sucedido o que sucedeu?

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e, sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas.

Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela, emboscado, enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido. Odeio os indiferentes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fala Bertolo!

Muito bom o conteúdo do seu blog! Quando o incentivei a criá-lo, é porque sabia disso!

Vida inteligente na internet!

Falows! []s

Júlio