Correrei o risco de pregar no deserto, afinal, não são poucos aqueles que param de ler um texto ao se deparar com um raciocínio diverso do seu.
Quando a vereadora Marielle Franco foi
assassinada, pessoas e setores de direita comemoraram ou minimizaram o fato. Agora,
quando o candidato presidenciável Jair Bolsonaro sofreu atentado (não falecendo
em razão do pronto atendimento e da proximidade do hospital), indivíduos e
ramos de esquerda exultaram ou relativizaram o ocorrido.
O fanatismo é tamanho que, em ambos os
casos, alguns (ou seriam muitos?) chegaram ao absurdo de responsabilizar a
vítima. Há argumentos que deixariam Talião e Hamurabi com inveja! José Simão,
mais conhecido por suas chacotas, foi cirúrgico ao comentar o radicalismo
político vivenciado no país: "No Brasil teremos a venda de uma nova
estampa de camisa. Nela estará escrito "I love ODIAR"".
Neste ponto, é importante trazer a
lume um evento de 1994, o qual demonstra o oposto de nossa conjuntura. Ao
aportar no Palácio do Governo da África do Sul para o primeiro dia de trabalho,
Nelson Mandela e seus asseclas se depararam com diversos funcionários
recolhendo seus pertences e deixando o local. O recém-eleito Presidente
sul-africano indagou-lhes a razão daquela atitude. Um dos servidores respondeu:
"Somos da oposição e todos somos brancos, então sabemos que seremos
demitidos!". Madiba então retrucou: "De forma alguma! Quem quiser
continuar a ajudar no nosso governo será muito bem-vindo!".
Um dos amigos mais próximos de Mandela
ficou indignado e contestou o convite realizado: "Não podemos aceitar
brancos e oposição em nosso governo, lembre-se de todas as injustiças que nos
fizeram". Mandela encerrou: "Isso faz parte do passado agora. Não se
constrói uma nação fundada no ódio. Somente com a união de todos, brancos e
negros, oposição e situação, é que podemos elevar nosso país". E assim foi
feito, apesar de todo o ranço histórico decorrente do nefasto sistema de
apartheid!
Resumindo, se ainda não entendeu: o
ódio não é instrumento de construção ou evolução. E tem mais: é causa de muitas
doenças psicossomáticas, sobretudo o câncer.
Apontar o dedo para o outro é muito
fácil! E não nos levará a lugar algum! Quando muito será para o retrocesso.
Essa eterna discussão mais se assemelha a duas crianças pirracentas. Que tal
utilizar essa energia para algo realmente útil e edificante?