domingo, 24 de fevereiro de 2013

Aos motociclistas de boa vontade (Bruno Momesso Bertolo)


Nesta semana, levantamento divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo apontou um aumento de 18% no número de motociclistas mortos em acidentes de trânsito nos últimos dois anos. Em 2011, no Estado paulista e na média diária, 55 motociclistas foram internados (gerando um gasto de 27,2 milhões de reais com internações, quantia 76% superior em relação a 2009), enquanto 5 faleceram. É muito e surreal!
 
Os motociclistas são o cerne deste artigo em decorrência dos alarmantes dados supramencionados, de modo que não estou imputando culpa exclusivamente a qualquer parte. Apenas discorrerei sobre o cenário e seus personagens, incumbindo a cada um refletir e tirar sua conclusão.
 
No cotidiano, noto que considerável parcela dos condutores de motocicletas circulam altíssimas velocidades, costuram entre os veículos, trafegam no "corredor", não observam o semáforo vermelho, ultrapassam pela direita, etc.. Muitos se julgam proprietários das vias públicas ou como se fossem os únicos que devem ser respeitados. Um exemplo: ao contrário do que os motociclistas pensam, eles não têm o direito de transitar no "corredor", isto é, o espaço entre dois veículos. Como toda condução, a moto deve observar as faixas de trânsito, ultrapassando pela esquerda e mantendo distância segura. Locomover-se pelo "corredor", além de ser um risco, no qual é alta a probabilidade de cair e ter a cabeça esmagada pelas rodas dos carros ao lado, representa várias infrações de trânsito (artigos 185, I, 192, 199 e 211, do CTB).
 
De outro lado, diversos condutores de automóveis não respeitam os motociclistas, espremendo-os propositalmente, impedindo uma ultrapassagem, deixando de dar a preferência, etc.. Ademais, a sociedade também é culpada pela excessiva velocidade dos motociclistas contratados para entrega de produtos (especialmente alimentos), pois muitos não toleram atrasos, ainda que de poucos minutos.
 
Eis as causas da elevada mortalidade de motociclistas em todo o país. Neste ponto, urge indagar aos motociclistas que não seguem as basilares regras de trânsito: vocês realmente acreditam que não vão se lesionar em caso de acidente? Creem que possuem uma habilidade sobrenatural que impedirá a colisão? Não compreendo tamanho destemor (leia-se imprudência e negligência), afinal, o condutor de motocicleta está exposto e um acidente acarretará, necessariamente, alguma lesão. Não raro, o ferimento é grave ou gravíssimo, senão fatal, em razão da queda ser inevitável e o corpo receber algum impacto.
 
Aos motociclistas de boa vontade imploro que sejam responsáveis e cautelosos. Se não for por cidadania, que seja visando seu próprio bem, pois você é o condutor mais frágil dentre os veículos automotores. Nessa guerra do trânsito, todos perdem e não existem vencedores. Há apenas mortos, feridos e mutilados, bem como sonhos interrompidos e famílias devastadas.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

"Você sabe com quem está falando?" (Bruno Momesso Bertolo)


Um episódio recente, no qual meu nome foi indevidamente envolvido, proporcionou algumas reflexões, as quais considero oportuno compartilhar. Explico. Alguns parentes distantes foram abordados por policiais militares porque estariam ameaçando vizinhos, ocasião em que teriam alegado serem meus familiares, atribuindo a mim o cargo (que não ocupo) de Promotor de Justiça. Diante desta informação, conforme asseverado pelas pessoas que acionaram a Polícia, os milicianos demonstraram intimidação, além de desconcerto em lidar com referida situação.
 
Sobredita conduta possui denominação. Trata-se da famigerada e nefasta carteirada, conjuntura em que uma autoridade, um milionário ou uma celebridade (bem como seus familiares) procuram se valer de sua influência para obter tratamentos privilegiados, intimidar e/ou ficar impune. É comum ser precedida pela repugnante indagação: "você sabe com quem está falando?".

Os policiais não deveriam ter se atemorizado, pois, se eventualmente referidos indivíduos fossem íntimos de uma autoridade, isso não significa que estão incólumes a prestarem esclarecimentos, serem investigados e, se necessário, detidos. Entretanto, em ocasiões desta natureza, não é rara a punição daquele que age consoante os ditames legais, porque ousou enfrentar uma personalidade “importante” ou seu familiar. Infelizmente, é uma prática histórica e enraizada em nossa sociedade, portanto, difícil de ser extirpada.

Neste ponto, urge lembrar o emblemático caso do Juiz de Direito que matou o vigia de um supermercado, pura e simplesmente porque o funcionário o impediu de entrar no estabelecimento comercial, que havia acabado de fechar. Segundo relatos de testemunhas, o meritíssimo afirmava que ingressaria no comércio porque era uma autoridade e, diante da educada recusa do segurança, o assassinou. A ideologia da carteirada contribuiu para o homicídio, pois, em sua ótica tacanha e distorcida, o magistrado acreditava que teve sua autoridade afrontada. E que isso bastava para ceifar uma vida, pasmem!

De outro lado, há o exemplo de Mahatma Gandhi, que criou comunidades rurais baseadas na subsistência (ashram), nas quais todos os integrantes realizaram todas as funções. Certo dia, sua esposa Kasturba, profundamente insatisfeita, indagou porque deveria limpar as latrinas, já que era casada com o líder do local. Gandhi, em sua peculiar e infinita sabedoria, afirmou-lhe: "Uma razão a mais para você realizar tal tarefa". E sua mulher entendeu.

Noutras palavras: autoridades são servidores da população. Ninguém é autoridade, mas está autoridade. Nenhuma condição mundana é permanente e um dia cessará, seja com a aposentadoria, seja com o falecimento. Restará apenas o que importa: o caráter. O respeito e a admiração que as autoridades merecem se devem não pelo cargo que possuem, mas por suas condutas ilibadas, pautadas pela humildade e discrição. No mais, utilizar-se do cargo público para fins particulares nada mais é do que um ato de corrupção.