domingo, 29 de junho de 2008

Quem morre? (Pablo Neruda)

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.

Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconheceou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maiorque o simples fato de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

domingo, 22 de junho de 2008

Seja feliz (Autor desconhecido)

Você pode ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes. Mas não se esqueça de que sua vida é a maior empresa do mundo. E só você pode evitar que ela vá à falência.

Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por você. É importante que você sempre se lembre de ser feliz e de que ser feliz não é ter um céu sem tempestades, caminhos sem acidentes, trabalho sem cansaço, relacionamentos sem decepções. Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo e amor nos desencontros.

Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas refletir sobre a tristeza.
Não é apenas comemorar o sucesso, mas sim aprender lições nos fracassos.
Não é apenas ter júbilos nos aplausos, mas encontrar alegria no anonimato.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista de quem sabe viajar para dentro do seu próprio ser.
Ser feliz é deixar de ser a vítima dos problemas e se tornar autor da sua própria vida.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito de sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
E segurança para ouvir uma crítica, mesmo que injusta.
É beijar os filhos, curtir os pais, ter momentos poéticos com os amigos, mesmo que eles nos magoem.

Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de cada um de nós.
É ter maturidade para falar "eu errei".
É ter ousadia para falar "me perdoe".
É ter sensibilidade para confessar "eu preciso de você".
É ter a capacidade de dizer "eu te amo".

Eu desejo que a vida seja um canteiro de oportunidades para você.
Que nas suas primaveras você seja amante da alegria.
Nos seus invernos, seja amigo da sabedoria.
E quando você errar o caminho, comece tudo de novo.
Pois assim você será cada vez mais apaixonado pela vida.

Descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita, mas saber usar as lágrimas para irrigar a tolerância, aproveitar as perdas para refinar a paciência e as falhas para esculpir a serenidade. É, também, usar a dor para lapidar o prazer e os obstáculos para abrir as janelas da inteligência na vida.
Jamais desista das pessoas que você ama. Jamais desista de ser feliz, pois a vida é um espetáculo imperdível.

domingo, 15 de junho de 2008

Palavras e silêncio (Florian Bernard)

Há algumas coisas que são lindas demais para serem descritas por palavras. É necessário admirá-las em silêncio e contemplação para apreciá-las em toda a sua plenitude.

São necessárias tão poucas palavras para exprimir a sua essência. As grandes falas servem, freqüentemente, só para confundir ou doutrinar. O silêncio é mais esclarecedor que um fluxo de palavras. Olhe para uma mãe diante do seu filho no berço. Ele consegue muito bem tudo o que quer sem dizer nenhuma palavra.

Na realidade, as palavras devem ser a embalagem dos pensamentos. Não adianta fazer discursos muito longos para expressar os sentimentos de seu coração. Um olhar diz muito mais que um jorro de palavras.

Creio que, em sua grande sabedoria, a natureza nos deu apenas uma língua e dois ouvidos para escutarmos mãos e falarmos menos.

Se as palavras não são mais bonitas do que o silêncio, então é preferível não dizer nada. Esta é uma grande verdade sobre a qual os grandes dirigentes deste mundo deveriam meditar. Quanto mais o coração é grande e generoso, menos úteis são as palavras...

É necessário lembrar o provérbio dos filósofos: as verdadeiras palavras não são sempre bonitas e as palavras bonitas nem sempre são verdades.

As grandes mentes fazer com que, em poucas palavras, muitas coisas sejam ouvidas. As mentes pequenas acham que têm, pelo contrário, a concessão para falar e não dizer nada. Falam bobagens, mas há aqueles que sabem o que escutar para colher.

Poucas palavras são necessárias para dizer "eu gosto de você". Portanto, todas as outras que poderiam ser ditas são supérfluas... “Sim” e “não” são as palavras mais curtas e fáceis de serem proferidas, contudo, são aquelas que trazem as mais pesadas conseqüências.

São necessários apenas dois anos para que o ser humano aprenda a falar e toda uma vida para que ele aprenda a ficar em silêncio. Ser comedido em suas palavras não é um defeito, mas prova de profunda sabedoria. Saber ouvir também.

domingo, 8 de junho de 2008

Os fidalgos e o xampu (André Petry)

O desembargador Ernesto Dória, um dos 25 presos da máfia da venda de sentenças, foi solto na madrugada de segunda-feira. Ao deixar a Polícia Federal, ajoelhou-se, fez o sinal-da-cruz e ergueu os braços para o alto.

Precisava agradecer aos céus? Bastava agradecer ao “foro privilegiado”, excrescência em nome da qual se criou a seguinte bruxaria: dos 25 presos, 21 seguem presos e quatro – um procurador e três desembargadores – estão livres como os passarinhos de Quintana.

É mais um exemplo da necessidade de acabar com o foro privilegiado, instituto que, ao remeter o julgamento de autoridades para tribunais superiores, divide o país em moradores da casa-grande e moradores da senzala.

Os defensores dizem que o foro privilegiado:

● Não fere o princípio de que todos são iguais perante a lei porque protege a função pública, e não a pessoa que a exerce. (Fosse isso, o ex-petista Juvenil Alves não teria direito a foro privilegiado porque é acusado de comandar um esquema de sonegação que desviou perto de 1 bilhão de reais dos cofres públicos. O que se protege aqui? O mandato parlamentar ou a pilantragem?)

● Não é privilégio, mas garantia jurídica para que a autoridade possa bem cumprir sua função pública. (Então, o foro privilegiado deveria ser restrito a crimes funcionais, conexos com a função. O ex-deputado Hildebranco Pascoal teve direito a foro privilegiado no processo por assassinato. Matar é crime funcional?)

● Protege as autoridades da perseguição de juízes de primeira instância e procuradores ávidos por holofotes. (Decisões de primeira instância não são irrecorríveis. Aliás, não há exemplo de autoridade “perseguida” que não tenha revertido a “perseguição”. Sem contar que são as autoridades – não os cidadãos comuns – que têm mais condição de buscar reparação judicial e reverter “perseguições”.)

● É uma garantia de que autoridades serão julgadas com justiça, por um órgão colegiado composto de magistrados experientes. (É por isso que a doméstica Maria Aparecida de Matos passou um ano e sete dias na cadeia por ter furtado um vidro de xampu. Cidadãos comuns não precisam de julgamentos justos nem de juízes experientes?)

● É uma garantia para a sociedade, pois os tribunais superiores são mais infensos à eventual pressão do acusado poderoso. (O Supremo Tribunal Federal pode não ter cedido à pressão de ninguém, mas o fato é que, na democracia, nunca condenou um deputado federal, um senador, um ministro. Nunca.)

Nos Estados Unidos, não tem foro privilegiado. Vai ver que lá não existe garantia jurídica, as autoridades não exercem bem sua função pública e vivem sendo perseguidas, e a sociedade, coitada, não sabe o que é julgamento justo.

Lembram-se dos fidalgos, dos doutores, dos membros da família do imperador, dos cavaleiros, dos escrivães da Real Câmara, que tinham foro privilegiado? Pois é, os nomes e os títulos mudaram desde o Império. Só os nomes e os títulos.