Existe quem acredite que a violência é uma característica intrínseca da espécie humana. Há duas abordagens para este fenômeno: a histórica que percebe que a violência é praticada dentro dos contextos que a envolve e, de algum modo, permitem seu desenvolvimento; a não-histórica e tradicionalista, pensando o ato de violência como algo que se refere única e exclusivamente à ação individual.
Na primeira, aqui esposada, busca-se entender o crime no lugar social onde ele foi praticado. Ele, com toda a sua rudeza, ajudaria a compreender melhor a sociedade onde teria ocorrido. A coleta de dados histórico-sociais sobre os seus autores ajudaria a elucidá-lo como também a evitá-lo em outras situações próximas e possíveis.
Na segunda, prevalece a condenação moral. Esta pode ser ou não justa. Nela, é recorrente o baixo nível de compreensão objetiva do problema. Em nenhuma das duas abordagens se diminuem a responsabilidade dos seus autores, sobretudo, quando fica provado que eles teriam meios de evitar a barbaridade de seus atos.
Se a violência extrema é uma velha característica da espécie humana, não se pode esquecer que a bondade também o é. A mão que mata também acaricia ou segura o desejo de alguém se desforrar de outrem. A violência sempre foi muito maior, quando praticada como instrumento de poder de elites sobre maiorias, de governantes sobre governados. A violência de indivíduos, principalmente, quando feita contra pessoas indefesas relaciona-se a algum tipo de iniqüidade social que animaliza, tanto o autor como a vítima.
Na época da escravidão, mulheres coisificadas executavam seus rebentos para diminuir suas cargas pesadas de trabalho servil. A inexistência do aborto legal deve explicar inúmeros casos de violências contemporâneas, que envolvem adultos e crianças. A irresponsabilidade social da paternidade e da maternidade, ainda vista por alguns como sagrada, seria outro vetor a ser considerado.
O crime comum esteve sempre relacionado ao tipo de sociedade onde ele viceja. Quando ele ocorre, seria bom que se verificasse porque foi possível. Quem não é hipócrita, sabe que a miséria é a mãe da maioria dos atos criminosos. Não é casual que a maioria dos aprisionados sejam oriundos dos setores mais pobres do tecido social. Beneficia-se disso quem comete crimes e não é pobre, porque os sensos comuns de setores importantes do Estado e da sociedade têm mais dificuldade, ou fingem ter, de compreender o envolvimento dos não-miseráveis.
Em uma sociedade construída a partir de inúmeros preconceitos e desigualdades, freqüentemente, imagina-se que a cadeia seja lugar apenas para os de baixo da pirâmide social. Isto costuma gerar a revolta dos mais pobres, que, com imensa razão, gostariam que a justiça fosse realmente para todos.
A ignorância é outra matriz da barbaridade criminosa. De há muito, a ignorância não é sinônimo estrito da falta de escolaridade. O monstro da ignorância é irmão siamês do monstro do consumo. Não saber é um pré-requisito de integração em alguns meios sociais que repelem a ciência e a arte, alimentando-se, mesmo quando não lhes falta dinheiro, do que há de pior na cultura das mídias.
Estar sintonizado, nos meios e aparelhos que permitem a comunicação atual, não garante o sonho acordado necessário ao progresso intelectual e moral de qualquer pessoa. A arte a ser consumida não precisa ser a das elites, mas tem que ter alguma qualidade, sendo capaz de humanizar seus usuários. A ciência conhecida não necessita ser a dos especialistas, basta que se saiba o essencial do saber contemporâneo. Os meios e aparelhos citados podem ser usados no sentido positivo e negativo.
Em um exemplo, da difusão da ignorância, as grandes mídias usaram, nos últimos dias, abusivamente da palavra ‘madrasta’ de clara conotação preconceituosa. Pareciam estar lembrando dos contos de fada compilados pelos Irmãos Grimm, na primeira metade do século XIX. Neles, fortemente inspirados na cultura oral européia, alguma mulher seria responsável pelo incrível sofrimento de personagens como a Branca de Neve e os pequenos João e Maria. Tal procedimento ofendeu a milhares de famílias reconstituídas que, aliás, tratam muito bem dos seus filhos, por vezes, melhor do que as anteriores. Isto deslocou a discussão do seu verdadeiro eixo.
Por que pessoas podem ser tão brutais e agirem contra a humanidade dentro de suas próprias casas? O que isto teria a ver com o vazio cultural e político do nosso tempo? Por que a noção conservadora dos laços familiares seria ainda tão forte e estimularia a barbárie? O que fazer para impedir outros casos?
Na primeira, aqui esposada, busca-se entender o crime no lugar social onde ele foi praticado. Ele, com toda a sua rudeza, ajudaria a compreender melhor a sociedade onde teria ocorrido. A coleta de dados histórico-sociais sobre os seus autores ajudaria a elucidá-lo como também a evitá-lo em outras situações próximas e possíveis.
Na segunda, prevalece a condenação moral. Esta pode ser ou não justa. Nela, é recorrente o baixo nível de compreensão objetiva do problema. Em nenhuma das duas abordagens se diminuem a responsabilidade dos seus autores, sobretudo, quando fica provado que eles teriam meios de evitar a barbaridade de seus atos.
Se a violência extrema é uma velha característica da espécie humana, não se pode esquecer que a bondade também o é. A mão que mata também acaricia ou segura o desejo de alguém se desforrar de outrem. A violência sempre foi muito maior, quando praticada como instrumento de poder de elites sobre maiorias, de governantes sobre governados. A violência de indivíduos, principalmente, quando feita contra pessoas indefesas relaciona-se a algum tipo de iniqüidade social que animaliza, tanto o autor como a vítima.
Na época da escravidão, mulheres coisificadas executavam seus rebentos para diminuir suas cargas pesadas de trabalho servil. A inexistência do aborto legal deve explicar inúmeros casos de violências contemporâneas, que envolvem adultos e crianças. A irresponsabilidade social da paternidade e da maternidade, ainda vista por alguns como sagrada, seria outro vetor a ser considerado.
O crime comum esteve sempre relacionado ao tipo de sociedade onde ele viceja. Quando ele ocorre, seria bom que se verificasse porque foi possível. Quem não é hipócrita, sabe que a miséria é a mãe da maioria dos atos criminosos. Não é casual que a maioria dos aprisionados sejam oriundos dos setores mais pobres do tecido social. Beneficia-se disso quem comete crimes e não é pobre, porque os sensos comuns de setores importantes do Estado e da sociedade têm mais dificuldade, ou fingem ter, de compreender o envolvimento dos não-miseráveis.
Em uma sociedade construída a partir de inúmeros preconceitos e desigualdades, freqüentemente, imagina-se que a cadeia seja lugar apenas para os de baixo da pirâmide social. Isto costuma gerar a revolta dos mais pobres, que, com imensa razão, gostariam que a justiça fosse realmente para todos.
A ignorância é outra matriz da barbaridade criminosa. De há muito, a ignorância não é sinônimo estrito da falta de escolaridade. O monstro da ignorância é irmão siamês do monstro do consumo. Não saber é um pré-requisito de integração em alguns meios sociais que repelem a ciência e a arte, alimentando-se, mesmo quando não lhes falta dinheiro, do que há de pior na cultura das mídias.
Estar sintonizado, nos meios e aparelhos que permitem a comunicação atual, não garante o sonho acordado necessário ao progresso intelectual e moral de qualquer pessoa. A arte a ser consumida não precisa ser a das elites, mas tem que ter alguma qualidade, sendo capaz de humanizar seus usuários. A ciência conhecida não necessita ser a dos especialistas, basta que se saiba o essencial do saber contemporâneo. Os meios e aparelhos citados podem ser usados no sentido positivo e negativo.
Em um exemplo, da difusão da ignorância, as grandes mídias usaram, nos últimos dias, abusivamente da palavra ‘madrasta’ de clara conotação preconceituosa. Pareciam estar lembrando dos contos de fada compilados pelos Irmãos Grimm, na primeira metade do século XIX. Neles, fortemente inspirados na cultura oral européia, alguma mulher seria responsável pelo incrível sofrimento de personagens como a Branca de Neve e os pequenos João e Maria. Tal procedimento ofendeu a milhares de famílias reconstituídas que, aliás, tratam muito bem dos seus filhos, por vezes, melhor do que as anteriores. Isto deslocou a discussão do seu verdadeiro eixo.
Por que pessoas podem ser tão brutais e agirem contra a humanidade dentro de suas próprias casas? O que isto teria a ver com o vazio cultural e político do nosso tempo? Por que a noção conservadora dos laços familiares seria ainda tão forte e estimularia a barbárie? O que fazer para impedir outros casos?