domingo, 7 de outubro de 2012

A obsessão pelo melhor (Leila Ferreira)

Estamos obcecados com "o melhor". Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do "melhor". Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.

Bom não basta. O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o melhor". Isso até que outro "melhor" apareça e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer.

Novas marcas surgem a todo instante. Novas possibilidades também. E o que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que podemos ter. O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego. Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter.

Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários. Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis.

Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente. Se não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência? Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa? E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto? O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o "melhor chef"? Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo "melhor cabeleireiro"?

Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixados ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos.
A casa que é pequena, mas nos acolhe.
O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria.
A TV que está velha, mas nunca deu defeito.
O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os homens "perfeitos".
As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me dar à chance de estar perto de quem amo...
O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem. O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer.

Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso?
Ou será que isso já é o melhor e na busca do "melhor" a gente nem percebeu?

domingo, 2 de setembro de 2012

Casamento (Arnaldo Jabor)

Meus amigos separados não cansam de me perguntar como eu consegui ficar casado trinta anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo.

Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo. Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas, dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue.

Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém aguenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano,está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu.

O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. O segredo no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo.

Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua de mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção? Sem falar nos inúmeros quilos que se acrescentaram a você, depois do casamento.

Mulher e marido que se separam perdem 10 quilos num único mês, por quê vocês não podem conseguir o mesmo? Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a frequentar lugares desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo e a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge. Vamos ser honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é sua esposa que está ficando chata e mofada, são os amigos dela (e talvez os seus), são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo círculo de amigos.

Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas, se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas, e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior. Não existe essa tal "estabilidade do casamento", nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos.

A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma "relação estável", mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensando fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, porque não fazer na própria família? É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo. Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par.

Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso, de vez em quando é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.

domingo, 26 de agosto de 2012

Trânsito assassino ou assassinos no trânsito? (Bruno Momesso Bertolo)



Todos os dias lemos nos jornais notícias de acidentes graves ou fatais no trânsito. Anualmente, mais de 40 mil pessoas falecem e outras 100 mil ficam inválidas no trânsito brasileiro, razão pela qual ocupamos, conforme informações da Organização Mundial da Saúde, o 5º lugar no mundo nesse quesito.

Apesar dos supramencionados e alarmantes dados, nenhuma providência concreta é efetivada pelo Poder Público. Alguns simplificam o problema, atribuindo referida carnificina a um ente despersonalizado, carinhosamente denominado como trânsito assassino. Neste ponto é necessário indagar: o trânsito é assassino ou os assassinos estão no trânsito?

Afinal, quem comete homicídio na condução de veículo automotor estando embriagado, em altas velocidades e/ou distraído (celular, CD-player, etc.), não deve se enganar: é tão assassino quanto quem puxa um gatilho. Tais comportamentos ao volante muito se assemelham ao dolo eventual, isto é, a pessoa assume o risco de produzir o resultado. Há uma controvérsia na doutrina e na jurisprudência nesse sentido, prevalecendo, infelizmente, a tese de homicídio culposo, algo que fomenta o sentimento de impunidade, pois eventuais condenações são, em regra, penas pecuniárias e serviços comunitários.

Aliás, muitos motoristas ainda não perceberam que os veículos, quando utilizados sem responsabilidade, são verdadeiras armas, já que matam e mutilam. A essência de quem mata, seja no trânsito, seja com armas, é idêntica. Uma vida é ceifada, de modo que as circunstâncias possuem somenos importância diante da trágica consequência.

Não se trata de fatalidades. É, sem dúvidas, irresponsabilidade. Quando o resultado ocorre em razão de negligência ou imprudência, tem-se um fator humano envolvido e, portanto, associado a uma conduta. Fugir da responsabilidade atribuindo as causas ao imponderável não mudará o ato perpetrado, tampouco mitigará o sentimento de culpa, que, algum dia, estará presente, ainda que inconscientemente.

Dirigir um veículo enseja grande responsabilidade. Lembre-se: você pode matar uma pessoa. Imagine a culpa eterna que você sentiria e a dor ocasionada aos outros. Se isso não for suficiente, tenha em mente que você pode ser alvo de um processo criminal, ficar inválido ou com sequelas irreversíveis. Se isso ainda não for o bastante, não olvide que você pode falecer e causar um sofrimento imensurável a seus pais, familiares e amigos.

Siga as regras básicas. Dirija por você e pelos outros, praticando a direção defensiva. Anteveja o movimento do motorista ao lado, do pedestre e se previna. Não pague para ver o que acontecerá. Seja cordial com todos os transeuntes e condutores. Na dúvida, dê a preferência ou pare. Fazendo nossa parte dificilmente seremos mais uma vítima do trânsito assassino.

domingo, 5 de agosto de 2012

Sobre o voto nulo (Bruno Momesso Bertolo)

Por que o voto nulo é tão combatido no Brasil? Por qual razão não há na urna eletrônica um botão destinado ao voto nulo, assim como ocorre com o voto em branco? Por qual motivo o voto nulo é tratado como tabu, como se fosse um assunto a ser ocultado?

Como é notório, criou-se e incutiu-se no imaginário popular a ideia de que votar nulo é sinônimo de desperdício. Incentiva-se, pasme, a votar no "menos ruim". Aliás, como se mensura quem é o "menos ruim"?

Alguém escolhe no supermercado o alimento "menos ruim"? Alguém compra o automóvel "menos ruim"? Alguém se casa com o "menos ruim"? A resposta é não, claro. Então por que a maioria da população age assim no que concerne a algo tão importante como o voto?

A História da recente democracia brasileira está repleta de exemplos de candidatos considerados "menos ruim" que, após serem eleitos e no exercício do poder, demonstraram ser tão ruins quanto. Apesar disso, muitos ainda defendem referido modo de votar. Lógica inexiste!

Se não bastasse, boa parcela do eleitorado é fatalista e a submissa, possuindo uma equivocada percepção de que temos que nos contentar com os candidatos disponíveis, sob o argumento de que "alguém tem que governar". Neste ponto, cumpre indagar: tem que ser alguém de índole duvidosa? Fazendo um paralelo, seria como adquirir o alimento menos estragado do supermercado, já que todos estavam em condições impróprias. Estranho e insensato, não? E votar assim, pode?

Alega-se que não adianta votar nulo, porque se uma única pessoa votar em um candidato, o voto deste eleitor prevalecerá. Por esse prisma, de que adianta praticar o bem se muitos perpetram o mal?

Embora o Tribunal Superior Eleitoral entenda que não haverá anulação das eleições se 50% mais um do eleitorado votar nulo (vencerá o candidato com mais votos válidos), tal modo de votar é um instrumento para demonstrar o descontentamento com os candidatos atuais. Ademais, que legitimidade teria um governante eleito com menos votos? Talvez, se houvesse manifestações populares, o eleito renunciaria ao mandato (se houver senso crítico, assim agirá espontaneamente), bem como os demais pretensos substitutos. É, em minha opinião, o único método (via sufrágio) para reformulamos o panorama político-eleitoral. Utópico ou não, é mais eficiente que votar no "menos ruim".

Alguns sustentam que votar nulo é ser omisso. Quer saber? Se assim for, é preferível. Antes omisso do que cúmplice. Ao menos não me arrependerei de ter contribuído para a dilapidação do erário e suas consequências nefastas. Não escolher é uma opção!

E você? Ainda lamentando por ter votado em quem não devia? Vai arriscar de novo? Boa sorte! E meus pêsames!

domingo, 1 de julho de 2012

Quantidade não é qualidade (Bruno Momesso Bertolo)

"Quantidade não é qualidade". Assim preceitua o antigo provérbio popular, tão repetido por nossos avós. Aludido adágio se aplica, impecavelmente, a uma recente e nova conjuntura limeirense: a possibilidade de 2º turno nas eleições municipais que se aproximam.

Alguns sugerem que Limeira tornou-se uma metrópole, unicamente porque agora comporta dois turnos. Outros alegam que o 2º turno representará um debate político maior. A meu ver, será apenas mais uma etapa de inúmeras promessas que serão prontamente esquecidas após o escrutínio. E nossa cidade continuará com suas inúmeras deficiências, nada obstante tenha potencial para evoluir.

Para alcançarmos a cifra de 200.000 eleitores, incentivou-se, nos meios de comunicação e redes sociais, os jovens de 16 anos a 18 anos incompletos a anteciparem seus registros eleitorais, pois seus votos são facultativos. Aliás, eis uma das grandes aberrações de nossa legislação: entende-se que uma pessoa possui capacidade para votar aos 16 anos, embora seja incapaz de dirigir um veículo automotor e ser responsabilizado penalmente. Lógica inexiste, afinal, a responsabilidade embutida no sufrágio é maior que a de conduzir um automóvel, pois decide a vida de toda a sociedade.

Longe de generalizar e com todo respeito às exceções, mas me dá calafrios imaginar tais jovens, a maioria alienada e despolitizada, votando. Como esperar um novo panorama na política limeirense se os eleitores não se demonstram preparados e instruídos politicamente?

Duvida? Então faça o teste. Pergunte a estes jovens eleitores, especialmente os de 16 anos a 18 anos incompletos, sobre eventos importantes da política e atualidade (somente em âmbito municipal, para evitarmos resultados mais desastrosos). As respostas serão monossilábicas, desconexas e/ou pueris, se é que as teremos. Um silêncio ensurdecedor não pode ser descartado.

Algo é certo: se houver 2º turno, as barganhas políticas serão ferrenhas. Apoio político sempre foi sinônimo de futuros cargos. Comprometer-se-á, de imediato, a independência da candidatura, maculando o governo antes mesmo de seu início. É exatamente desta promiscuidade – que alguns cínicos alegam "ser parte do jogo" – que nascem a corrupção e a ingovernabilidade, sobretudo porque o bem comum é olvidado para atender a interesses particulares de poucos.

Considerando os candidatos cogitados, a elevada quantidade de eleitores despolitizados e os corriqueiros escândalos políticos de nossa Limeira, questiono até se mereceremos o 1º turno. Sobra quantidade e falta qualidade, seja de candidatos, seja de eleitores.

Espero que você, leitor e eleitor, demonstre o quão equivocado estou. Ficarei profundamente feliz. Afinal, teremos uma Limeira efetivamente melhor em qualidade. É o que realmente importa.