domingo, 27 de setembro de 2015

Um convite a todos (Bruno Momesso Bertolo)


Desde outubro do ano passado, quando inúmeras postagens de cunho político, discriminatórias e coléricas proliferavam pelo Facebook, deixei de acessar referida rede social com freqüência, fazendo-o somente esporadicamente. E quando o faço, me arrependo, pois, em regra, imperam as reclamações contra políticos e partidos, como se eles fossem a única causa de nossas mazelas.

Proponho um convite a todos: mudar de postura. Afinal, referidos protestos resultam em quê? Seria uma terapia em grupo? Cura algo? É uma forma de demonstrar que é politizado? Para quem e quê?

Não seria melhor utilizar esta energia para algo concreto, útil e bom? Não seria interessante nos espelharmos no povo japonês, que encara as inúmeras adversidades (como terremotos, tsunamis, bombas atômicas) com serenidade e empenho? Aliás, eis uma das razões do sucesso e progresso nipônico, apesar da limitada extensão territorial e escassez de recursos naturais.

Vibrações negativas atraem energias negativas e só originarão frutos de idêntica carga. Portanto, tal círculo vicioso precisa ser rompido, sob pena de permanecermos em uma conjuntura pessimista e desprovida de perspectivas.

Algumas pessoas afirmarão: "Ah, é muita injustiça e impunidade, não é possível permanecer conformado". O cerne do assunto não se restringe a ser ou não ser conformista, mas em ter discernimento. Falo por experiência própria, após me desiludir completamente com uma instituição que outrora admirava. De que adianta eu ficar estressado e/ou reclamando? É necessário ter ciência que, nesta vida ou em outra, quem utiliza cargos e/ou poderes para benefício próprio e ao arrepio dos valores éticos, será cobrado (e muito!). Em suma: os outros são problemas deles. Cada um vive conforme seus ideais (ou na ausência deles) e terá que prestar contas acerca de suas atitudes e omissões durante a vida terrena.

Em um passado não muito distante, eu fervia de raiva quando observava um político desonesto, um líder parcial, uma instituição corporativista, dentre outras iniquidades. Hoje tenho muita pena dos indivíduos que escolhem o poder, o dinheiro, a fama, o status, etc., como mantras de suas existências. São, infelizmente, espíritos materialistas (imensurável paradoxo!) e de pouco esclarecimento, que não fazem ideia do rumo que estão seguindo e os nefastos resultados que colherão.

Não se preocupe com eles! Focalize em você, seus entes queridos e seus amigos. Cerque-se de pessoas de boa índole e trace seus objetivos. Em toda a história da humanidade, apesar de todos os faraós, monarcas, ditadores e seus respectivos impérios, o bem sempre sobrepujou o mal. Sempre!

E então, vamos abandonar as vibrações negativas? Ou escolherá permanecer na mesma faixa daqueles que tanto critica? Pense nisso!

domingo, 19 de abril de 2015

Carta ao Presidente da Câmara de Limeira (Bruno Momesso Bertolo)


Excelentíssimo Senhor Nilton Santos,

Na condição de cidadão limeirense, que sempre residiu neste município, venho por meio da presente carta repudiar o discurso proferido por Vossa Excelência, qual seja, de que quanto menos um agente político recebe, maior o risco de corrupção.

Sobredito argumento é um colóquio para acalentar bovinos, mais conhecido como conversa para boi dormir. Trata-se, indubitavelmente, de uma nefasta justificativa para tentar legitimar atos de improbidade administrativa, como se eventual injustiça salarial representasse um motivo para se corromper.

Um exemplo mais que contundente: muitos dos envolvidos no esquema ímprobo da Petrobrás tinham remuneração mensal de 50 a 100 mil reais. Então recebiam pouco? Quanto seria necessário de ordenado para não serem criminosos? 200 mil? 500 mil?

Ainda que por via transversa, Vossa Excelência insinua que caráter e honestidade possuem valor monetário. Eu discordo! A meu ver, todo homem amoral ou imoral tem seu preço.

Vossa Excelência afirmou: "O homem público pode cair em tentações. Comigo esse risco não existe". Se possui plena convicção de seus ideais, qual a razão de aludida preocupação? Vou arriscar uma possível resposta: estando no cargo de Presidente da Câmara, pretende zelar pela imagem do Poder Legislativo limeirense, evitando escândalos atrelados à corrupção? É isso?

E aprovar um aumento de 103% da remuneração dos vereadores, por meio de regime de urgência especial e na calada da noite, por acaso não macula a reputação da Edilidade limeirense? Ao que tudo indica, ainda não percebeu, mas um agente político deve servir ao povo, não servir-se do cargo para interesses particulares.

Se não bastasse a pérola anterior, Vossa Excelência ainda asseverou: "O vereador recebe líquido R$ 4,7 mil. É justo receber um terço do valor do salário de quem ele fiscaliza?". Eu li corretamente? Fiscaliza? Uma indagação: quantas representações Vossa Excelência encaminhou ao Ministério Público local acerca de fiscalizações de atos do Poder Executivo? E seus pares, excetuando o vereador de atuação notória? Quantas? Creio que cabem nos dedos de uma mão, se é que existem!

Sim, supramencionado valor é mais do que justo. É até exacerbado! A título ilustrativo, basta citar que é uma remuneração maior que a recebida por um Oficial de Promotoria lotado em uma Promotoria de Justiça de Probidade Administrativa, servidor que possui inúmeras responsabilidades e afazeres, auxiliando sobremaneira no combate à corrupção.

Se Vossa Excelência considera o salário de vereador insuficiente e/ou pífio, basta não se candidatar à reeleição!

Por fim, uma citação de Eduardo Galeano, escritor uruguaio falecido esta semana: "Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar".

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Nós, o povo (Bruno Momesso Bertolo)


Em 05 de fevereiro passado, o Jornal de Limeira publicou um artigo intitulado "Nós, o governo", de autoria do Sr. Tercio Garcia, Secretário Municipal de Administração. Em que pesem os argumentos expostos, possuo uma ótica antagônica, conforme compartilharei a seguir.

Não concordo que seja "curioso como as pessoas se referem aos governos, de modo geral, na terceira pessoa". Afinal, mencionado distanciamento da população em relação aos governos se deve como reação, na medida em que os políticos se afastam, cada vez mais, das aspirações sociais.

Concordo com sobredito agente público que "não deveria ser comum que o povo se sentisse excluído dos governos em um regime democrático representativo onde, como reza a Constituição Federal, todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição". Todavia, como não nutrir o sentimento de exclusão diante dos corriqueiros escândalos políticos e do aumento dos impostos? Ademais, há muitas normas e preceitos constitucionais que são letras frias ou mortas, sem aplicações concretas, embora não devessem ser. Ou alguém acredita que o salário mínimo é “capaz de atender às necessidades vitais básicas do trabalhador e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”, nos termos do artigo 7º, IV, da Lei Maior? Ou seja: a teoria, na prática, é outra...

Neste ponto, impende ressaltar o interesse público se divide em dois: o primário e o secundário. Aquele concerne à verdadeira finalidade da Administração Pública, isto é, atender ao bem-estar da coletividade; este alude aos anseios patrimoniais do ente público (como a nefasta prática de protelar o pagamento de precatórios). Quanto mais próximos e harmoniosos os interesses públicos primário e secundário estiverem, mais democrática se revela uma nação. É necessário discorrer onde o Brasil se encaixa? Ou sobre o abismo existente entre o Brasil e os países nórdicos?

Desculpe-me, Sr. Tercio, mas não é aceitável culpar a população pelos erros governamentais (em todas as esferas). Existe, a meu ver, responsabilidade somente daqueles que reelegem um governante despreparado e/ou ímprobo. Afinal, que culpa tem o eleitor de votar em um candidato que, ao ascender ao poder, esquece-se de imediato suas promessas e realizas ações a seu bel-prazer e interesses particulares?

Se não bastassem algumas teorias sociológicas imputando culpabilidade à sociedade pelos criminosos, agora seremos responsabilizados também pela incompetência dos entes públicos? A única culpa dos brasileiros é pagar uma das maiores cargas tributárias do mundo e não exigir o respectivo retorno em serviços públicos eficientes e universais. "Quem não entendeu isso, não entendeu nada".