domingo, 1 de abril de 2012

Ser ou não ser (um doador), eis a questão (Bruno Momesso Bertolo)

Consternação e esperança, eis os sentimentos aflorados ao ler a matéria que noticiou a 1ª doação de órgãos em Limeira nos últimos 2 anos. A tristeza deu-se pela escassez de doações no período, enquanto o alento ocorreu pela admirável história de uma família que foi generosa em um momento de dor.

Não consigo entender como alguém e/ou sua família se recusa(m) a doar órgãos. Escolha difícil: ajudar o próximo ou oferecer os órgãos para alimentar vermes? Ser contrário à doação de órgãos é o cúmulo do materialismo, sobretudo por ser vivenciado em uma ocasião como o falecimento, ou melhor, a transição para o mundo espiritual.

A doação de órgãos é um ato de amor e sensatez. É, ainda, uma forma de perpetuar o ente que partiu, pois uma parte dele permanecerá viva em outras pessoas, auxiliando-as a superar alguma enfermidade e/ou limitação física. É, portanto, fazer a coisa certa.

Se não bastasse, os familiares e amigos do doador terão um conforto ao presenciar que a morte de seu ente querido ensejou benefícios a outrem, ainda que desconhecido. Perceberão, concretamente, que o falecimento teve um sentido até para a nossa efêmera dimensão material.

A questão, ser ou não ser (um doador), é deveras simples. Ponha-se no lugar daquele que está há anos na fila esperando um órgão para ter uma vida saudável ou suplantar a constante ameaça de morte. Imagine que fosse seu filho ou seus pais. Você gostaria que alguém lhe ajudasse, não? Então por qual motivo a recíproca não deve existir?

Paradoxalmente, um dos maiores (se não for o principal) empecilhos às doações de órgãos são as doutrinas religiosas que condenam referida ação, verdadeira afronta aos basilares conceitos da ética e da virtude. Como uma entidade superior poderia se opor a uma atitude benévola? Salvar alguém pode ser indigno ou imoral?

Manifeste o desejo de doar órgãos aos seus familiares o quanto antes. Não acredite que a morte não chegará tão cedo, afinal, ela não costuma enviar aviso prévio. Seja firme com seus parentes próximos, afirmando que é algo que deverá ser observado incondicionalmente, seja porque é um anseio final, seja porque é um ato altruísta.

Ser um doador de órgãos ou autorizar a doação de um parente falecido não pode e nem deve se resumir a aspectos atrelados a vontades supérfluas, como empáfias, poderes ou estéticas. Trata-se de propiciar a vida. Seja favorável: doe órgãos, doe vida!