domingo, 8 de fevereiro de 2015

Nós, o povo (Bruno Momesso Bertolo)


Em 05 de fevereiro passado, o Jornal de Limeira publicou um artigo intitulado "Nós, o governo", de autoria do Sr. Tercio Garcia, Secretário Municipal de Administração. Em que pesem os argumentos expostos, possuo uma ótica antagônica, conforme compartilharei a seguir.

Não concordo que seja "curioso como as pessoas se referem aos governos, de modo geral, na terceira pessoa". Afinal, mencionado distanciamento da população em relação aos governos se deve como reação, na medida em que os políticos se afastam, cada vez mais, das aspirações sociais.

Concordo com sobredito agente público que "não deveria ser comum que o povo se sentisse excluído dos governos em um regime democrático representativo onde, como reza a Constituição Federal, todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição". Todavia, como não nutrir o sentimento de exclusão diante dos corriqueiros escândalos políticos e do aumento dos impostos? Ademais, há muitas normas e preceitos constitucionais que são letras frias ou mortas, sem aplicações concretas, embora não devessem ser. Ou alguém acredita que o salário mínimo é “capaz de atender às necessidades vitais básicas do trabalhador e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”, nos termos do artigo 7º, IV, da Lei Maior? Ou seja: a teoria, na prática, é outra...

Neste ponto, impende ressaltar o interesse público se divide em dois: o primário e o secundário. Aquele concerne à verdadeira finalidade da Administração Pública, isto é, atender ao bem-estar da coletividade; este alude aos anseios patrimoniais do ente público (como a nefasta prática de protelar o pagamento de precatórios). Quanto mais próximos e harmoniosos os interesses públicos primário e secundário estiverem, mais democrática se revela uma nação. É necessário discorrer onde o Brasil se encaixa? Ou sobre o abismo existente entre o Brasil e os países nórdicos?

Desculpe-me, Sr. Tercio, mas não é aceitável culpar a população pelos erros governamentais (em todas as esferas). Existe, a meu ver, responsabilidade somente daqueles que reelegem um governante despreparado e/ou ímprobo. Afinal, que culpa tem o eleitor de votar em um candidato que, ao ascender ao poder, esquece-se de imediato suas promessas e realizas ações a seu bel-prazer e interesses particulares?

Se não bastassem algumas teorias sociológicas imputando culpabilidade à sociedade pelos criminosos, agora seremos responsabilizados também pela incompetência dos entes públicos? A única culpa dos brasileiros é pagar uma das maiores cargas tributárias do mundo e não exigir o respectivo retorno em serviços públicos eficientes e universais. "Quem não entendeu isso, não entendeu nada".