domingo, 10 de abril de 2016

Muita legislação, pouca cultura (Bruno Momesso Bertolo)


Uma mescla de sentimentos veio à tona ao ler a Gazeta de Limeira do dia 6 de abril do ano vigente. Era difícil saber se deveria rir, chorar, lamentar, olvidar, enfurecer, espairecer etc. Resolvi que era necessário redigir um texto acerca do tema, portanto, aqui estou. Explico.

A Gazeta trouxe em sua capa 3 notícias, no mínimo, interessantes: "Bancos de ônibus serão 100% preferenciais", "Projeto proíbe buzina a gás" e "Pichadores escapam de multa prevista em lei". A primeira crônica versava sobre projeto de lei municipal que pretende impedir a venda de buzina a gás em Limeira, enquanto a segunda reportagem abordava outro projeto de lei, já aprovado, cujo teor prevê que todos os assentos dos coletivos em Limeira terão preferência a idosos, gestantes, pessoas com obesidade, deficiência ou crianças no colo. A matéria principal, por outro lado, narrava que desde a aprovação do Código de Posturas do Município, há 1 ano, 10 pichadores foram identificados, porém nenhum foi enquadrado em referida lei municipal, ficando impunes.

Diante de sobreditas informações, indaga-se:  qual a finalidade de leis que não são aplicadas? A mera proibição, o proibir por proibir, é a solução? Do quê e para quem? Alguém não faz uso de entorpecentes tão-somente porque eles são ilegais? O ordenamento jurídico é ou deve ser mecanismo para suprir a ausência de ensinamentos, valores e consciência?

O imaginário coletivo brasileiro apregoa que somos uma terra desprovida de leis, logo, esta seria a razão da impunidade e da elevada criminalidade (incluindo a do colarinho branco, a mais nefasta e genocida). Nada mais falso! O Brasil, infelizmente, é uma das nações de maior produção legislativa, evidenciando o reduzido desenvolvimento – notadamente o cultural – de nossa sociedade. Afinal, o progresso de um país é mensurado por meio da quantidade de sua legislação: quanto mais leis, mais atrasado.

Se precisamos criar diplomas normativos para supramencionadas situações, é indício que algo está muito, mas muito errado. Pelo andar da carruagem, em breve teremos leis estabelecendo normas de condutas, morais e cerimoniais. Já pensaram em uma regra (legal) determinando que, quando uma pessoa desejar "bom dia", a outra deverá responder de forma idêntica, sob pena de multa e/ou prisão? Só falta isso!

Benjamin Disraeli brilhantemente vaticinou: "Quando os homens são puros, as leis são desnecessárias; quando são corruptos, as leis são inúteis". Em suma: não resolveremos os problemas que nos afligem mediante canetadas. É uma questão cultural e, como tal, deve ser enfrentada nessa seara, principalmente por meio da educação universal e de qualidade, além dos ensinamentos familiares, mais conhecido como berço da cidadania. Basta agir, não legislar!