Duas
pessoas se encontram e iniciam uma conversa. A primeira diz que prefere ser
vítima de um estelionato. A outra contesta, afirmando que é melhor ser furtada.
Em seguida, uma comenta que receber um disparo de arma de fogo no joelho
direito é preferível, enquanto a outra sustenta que no joelho esquerdo a dor é
menor. Evidentemente, referidas discussões não possuem muito sentido, é algo
próximo a debater o sexo dos anjos. Todavia, as redes sociais e comentários de
internet estão repletos de contendas semelhantes, especialmente no que concerne
à disputa eleitoral pela Presidência.
Defensores de um partido alegam que, embora haja casos de corrupção, o importante é que o Brasil progrediu socialmente. Seus detratores, por sua vez, sustentam que os atos de improbidade administrativa são inaceitáveis, a despeito de nada mencionarem sobre atitudes semelhantes do governo anterior. Há, pasmem, debates sobre qual escândalo é pior, o mensalão ou a compra da reeleição! E por aí vai... A premissa básica é: ao adversário tudo é proibido e aos meus partidários tudo é permitido. Traçando um paralelo, seria como convidar um assaltante para ingressar em seu lar, afinal, ele "apenas" ameaça, agride e rouba, pois poderia ser bem pior, como ocorreria se fosse um latrocida.
Na política brasileira, o acusador de hoje é o acusado de amanhã. Ideologia inexiste, trata-se somente de interesse político, que também pode ser moeda de troca, dependendo dos anseios dos envolvidos. Desde 1988 é assim e o povo brasileiro parece gostar de ser, supostamente, enganado. Todos prometem tudo, porém, após serem eleitos, nada ou pouco é modificado.
A essência do voto é a escolha, contudo, atualmente a filosofia da maioria do eleitorado é o sufrágio por exclusão, por ódio e/ou por coação. Vota-se por votar, vota-se no "menos pior", vota-se no fulano para extirpar beltrano do poder, vota-se por simpatia, vota-se por obediência religiosa etc. É isso a democracia brasileira? O que almejamos para o país? Aonde tortuosas posturas ao votar nos levarão?
Depois de alguns meses no poder, a verdadeira personalidade do governante se revela, ocasião em que ninguém assume a paternidade eleitoral, como ocorreu após um impeachment presidencial e uma cassação municipal. Se porventura localizar algum de aludidos eleitores, a resposta padronizada será a de que "não tinha em quem votar", eximindo-se de culpa pela opção nefasta.