domingo, 28 de setembro de 2014

Seis por meia dúzia (Bruno Momesso Bertolo)

 
Duas pessoas se encontram e iniciam uma conversa. A primeira diz que prefere ser vítima de um estelionato. A outra contesta, afirmando que é melhor ser furtada. Em seguida, uma comenta que receber um disparo de arma de fogo no joelho direito é preferível, enquanto a outra sustenta que no joelho esquerdo a dor é menor. Evidentemente, referidas discussões não possuem muito sentido, é algo próximo a debater o sexo dos anjos. Todavia, as redes sociais e comentários de internet estão repletos de contendas semelhantes, especialmente no que concerne à disputa eleitoral pela Presidência.

Defensores de um partido alegam que, embora haja casos de corrupção, o importante é que o Brasil progrediu socialmente. Seus detratores, por sua vez, sustentam que os atos de improbidade administrativa são inaceitáveis, a despeito de nada mencionarem sobre atitudes semelhantes do governo anterior. Há, pasmem, debates sobre qual escândalo é pior, o mensalão ou a compra da reeleição! E por aí vai... A premissa básica é: ao adversário tudo é proibido e aos meus partidários tudo é permitido. Traçando um paralelo, seria como convidar um assaltante para ingressar em seu lar, afinal, ele "apenas" ameaça, agride e rouba, pois poderia ser bem pior, como ocorreria se fosse um latrocida.

Na política brasileira, o acusador de hoje é o acusado de amanhã. Ideologia inexiste, trata-se somente de interesse político, que também pode ser moeda de troca, dependendo dos anseios dos envolvidos. Desde 1988 é assim e o povo brasileiro parece gostar de ser, supostamente, enganado. Todos prometem tudo, porém, após serem eleitos, nada ou pouco é modificado.

A essência do voto é a escolha, contudo, atualmente a filosofia da maioria do eleitorado é o sufrágio por exclusão, por ódio e/ou por coação. Vota-se por votar, vota-se no "menos pior", vota-se no fulano para extirpar beltrano do poder, vota-se por simpatia, vota-se por obediência religiosa etc. É isso a democracia brasileira? O que almejamos para o país? Aonde tortuosas posturas ao votar nos levarão?

Depois de alguns meses no poder, a verdadeira personalidade do governante se revela, ocasião em que ninguém assume a paternidade eleitoral, como ocorreu após um impeachment presidencial e uma cassação municipal. Se porventura localizar algum de aludidos eleitores, a resposta padronizada será a de que "não tinha em quem votar", eximindo-se de culpa pela opção nefasta.

Ao que tudo indica, o brasileiro se satisfaz ao trocar seis por meia dúzia. Enquanto isso, a corrupção permanece, os impostos aumentam, os serviços públicos definham, as instituições são aviltadas e o país naufraga. Está na hora do brasileiro acordar... Ou será tarde demais!

domingo, 21 de setembro de 2014

Se você quer palhaçada, então terá palhaçada! (Bruno Momesso Bertolo)

 
Depois de me preparar psicologicamente, tomar coragem, respirar fundo e contar até 10, resolvi assistir ao horário (leia-se hilário) eleitoral (que não é) gratuito. O arrependimento foi instantâneo! Na televisão desfilavam um rol, no mínimo, inusitado: humoristas, atores, cantores, ex-BBBs, funkeiras, ator pornô, médico-cirurgião, ex-atletas, dentre outros. Até um cidadão que alega ser discípulo do Diabo é candidato (é, faz sentido!).

Não sabia se ria ou se chorava. Diante de aludida dúvida, optei por desligar a televisão e lerum jornal, porém a notícia estampada era a de que Tiririca lidera as pesquisas para parlamentar. Não me restou alternativa senão redigir o presente artigo...

Inicialmente, ressalto que não se trata de uma apologia ao voto censitário ou algo semelhante. Jamais! Sobreditos candidatos agem no gozo de seus direitos políticos e possuem legitimidade para fazer o que almejarem (desde que em consonância com os ditames legais, claro) em suas campanhas políticas. Porém, me assombra a quantidade de espetáculos tragicômicos e a receptividade do eleitorado.

Uma simples indagação é suficiente para elucidar o que penso: você entraria em um avião que seria governado senão por um piloto credenciado? Você se submeteria a uma cirurgia senão por um médico formado? Creio que não, né? Então porque é aceitável votar em um candidato despreparado para cargos cujas atribuições são legislar e fiscalizar?

Em outras palavras: se você quer palhaçada, então terá palhaçada. Não é possível colher maçãs se plantar bananas. Depois não reclame e arque com as consequências de um ato imprudente. Alguns dirão: "Ah, mas é um voto de protesto, pois não há candidato digno de meu voto". Então anule! Ao votar nulo, ainda que por via transversa, você afirmará que nenhum concorrente mereceu sua confiança, bem como que acredita que uma reforma política é imperiosa. Ao votar no pretendente engraçadinho, o único efeito será conduzi-lo a um importante cargo sem o necessário preparo.

Que leis podemos esperar de um grupo composto por celebridades e pseudocelebridades? Não olvido que alguns dos mencionados aspirantes sejam capazes e inteligentes. Entretanto e ao que tudo indica, eles são utilizados como fantoches dos partidos políticos, ávidos por conquistar votações expressivas em razão da fama e carisma do candidato, podendo, inclusive, eleger indiretamente outros da sigla partidária (o “puxar votos” decorrente do coeficiente eleitoral).

E aí, abestado, vai arriscar?