domingo, 27 de dezembro de 2020

Hipocrisias e ilusões (Bruno Momesso Bertolo)

Nelson Rodrigues descortinava com maestria, em suas obras e crônicas, o véu do falso moralismo e da hipocrisia da sociedade. Não é à toa, portanto, que foi tão criticado. Dá para imaginar o que ele escreveria atualmente? Matéria-prima é farta!

Afinal, muitos asseveram que almejam ter ao seu lado pessoas de índole ilibada. Mas, quando um indivíduo com aludida qualidade age eticamente, então é taxado de chato, severo e, pasmem, desumano.

Muitos criticam a corrupção, entretanto, quando é veiculada uma notícia de um funcionário que encontrou e devolveu elevada quantia, rotulam-o de trouxa, politicamente correto e afins.

As pessoas dizem que anseiam por determinados valores e virtudes, contudo, querem tão-somente alguém que lhes agrade e propicie um sentimento de bem estar.

Preferem um falso elogio a uma crítica verdadeira. Optam pela aparência em detrimento da realidade. Escolhem um fanfarrão divertido e preterem um caráter introspectivo.

Neste ponto, farei uma analogia injusta, porém necessária por ser deveras ilustrativa. Sei que se trata de uma arte e, portanto, possui outro propósito, logo, não estou condenando-a.

Eis o exemplo: um show de ilusionismo. A platéia sabe que foi enganada, todavia, aplaude e sai satisfeita. Na vida também é assim! A verdade e a realidade são doloridas, difíceis de assimilar e até insuportáveis. Então, a alienação é uma válvula de escape, quiçá um instinto de sobrevivência inconsciente. Representa o caminho mais curto e fácil.

Em um mundo repleto de hipocrisias e ilusões, valores e virtudes são artigos ensejadores de conflitos e frustrações, algo que poucos estão dispostos a enfrentar. O importante é parecer feliz.

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