Quando mais jovem, tinha prazer em redigir artigos para os jornais do município, um site de jornalistas e meu blog. Havia debates produtivos, respeito na discussão e, pasme, argumentos. Atualmente há ofensas e “haters”. E o pior: memes! Uma figura com poucas palavras “vence” diversas linhas e, às vezes, até horas de redação. Com direito a óculos de “Thug life”, se bobear. Diante de sobredito panorama, é difícil ter ânimo para escrever.
Entretanto,
familiares e amigos me pediram para retornar aos textos. É por vocês que estou
aqui! E será salutar para mim também, é claro! Esta última noite insone, uma característica
daquela época (um misto de ideias que surgem e não permitem dormir, bem como a
ansiedade em escrever), deve ser um indicador positivo também.
Eis
um tema (tão em voga) que há meses pretendia abordar em muitos parágrafos: a
mídia! Como serão vários pontos, dividirei em capítulos para ninguém se perder.
Nem eu!
Capítulo 1: A
contradição
Lula,
a “alma viva mais honesta desse país”, em seus discursos dizia que a imprensa seria
um braço do capital especulativo, da direita e da elite, perseguindo-o porquê
ele fazia um governo para os pobres.
Dilma,
a fantoche, até hoje se vitimiza alegando que foi alvo de um golpe orquestrado
pela mídia.
Bolsonaro,
o novo Galileu Galilei (ele está certo, o mundo está errado), sustenta que a
mídia é de esquerda, distorce os seus pronunciamentos (cada pérola que nos faz
pensar se Dilma voltou!) e quer criar pânico (especialmente em uma época de,
oras pois, pandemia mundial!) para derrubá-lo.
Conclusão
óbvia: ou uma, ou outra tese. Uma anula a outra e não podem coexistir. Quem tem
razão? O lulo-petismo ou o olavo-bolsonarismo?
Minha
opinião: nenhum dos dois. A meu ver, a imprensa brasileira cumpre seu papel ao
investigar e criticar os poderosos e, por conseguinte, sofre ataques de quem
não sabe ou não pode se defender. Algo semelhante acontece com o Ministério
Público, outro órgão que, na ótica dos políticos, os acossa gratuitamente. Coitados
de nossos inocentes políticos, os mais honestos e patriotas do planeta!
Capítulo 2: Deixe de
ser ingrato, bolsominion!
Quando
toda a imprensa brasileira e mundial noticiaram os escândalos de corrupção
envolvendo o PT, mormente o Mensalão e o Petrolão, além do destaque do processo
de impeachment de Dilma, os críticos do PT (na época não existia o
bolsonarismo) eram apenas elogios. A mídia era perfeita. O que mudou senão o
governo?
Aliás,
conforme relato dos próprios integrantes da Operação Lava-Jato, ela atingiu proporções
e resultados gigantescos graças à ampla divulgação e apoio da imprensa.
Em
outras palavras: deixe de ser ingrato, bolsominion! Todo cidadão deveria
agradecer por ter uma imprensa livre.
E
agora, a outrora mídia elitista e golpista, na visão dos fanáticos petistas, está
fazendo um excelente trabalho.
Entenderam?
Sempre foi assim! Na oposição uma postura; uma vez no poder, outra. E a culpa é
da mídia...
Capitulo 3: Profissionalismo
é necessário em toda profissão
Puxa
vida, que bela constatação! Redescobriu a roda! Profissionalismo é necessário
em toda profissão. Óbvio ululante (nada a ver com o Lula, por favor!)! Pois é!
Todavia, nesses tempos de pós-verdade (a opinião existe por si mesma, independe
de provas e fundamentos, isto é, “creio e acabou”), até mesmo o que é
inequívoco precisa ser lembrado e dito.
Você
realizaria uma operação com um médico que apenas atende em redes sociais? Pegaria
um avião cujo piloto se credenciou pelo WhatsApp? Suponho que não!
Apesar
da decisão do STF dispensando o requisito do diploma para exercer o Jornalismo,
o fato é que um bom repórter depende de conhecimento e uma estrutura para
desempenhar razoavelmente seu ofício. Além disso, em regra atuam por empresas, de
modo que poderão ser responsabilizados civil e/ou criminalmente em caso de uso
indevido na divulgação das notícias.
Isso
se chama profissionalismo e é uma forma de controle estatal. Nas redes sociais,
reduto propício para anônimos, como você identifica a fonte da informação? Qual
a credibilidade? Como punir nos excessos?
Esses
dias de quarentena propiciaram um passeio pelos denominados “influenciadores
digitais”. Evidentemente conhecia os mais famosos, porém são inúmeros
personagens, no mínimo, inusitados. Utilização de megafone, tapas e socos na
mesa, palavrões, enfim, uma gama de bizarrices. E são os atuais formadores de
opinião. Muitos dos quais visam tão-somente um cargo nas próximas eleições. No
último pleito, vários conseguiram aludido intento.
Para
ilustrar: terraplanismo, antivacinação e outros absurdos medievais jamais
seriam publicados na mídia tradicional. Sequer passariam na triagem.
Capítulo 4: Maus
profissionais existem em todo lugar
Indubitavelmente,
há maus jornalistas e empresas duvidosas e/ou tendenciosas. Maus profissionais
existem em todo lugar. E toda generalização é injusta e burra. Virou rotina se
deparar no Facebook com postagem como “Jornalismo não serve para nada”, “Tudo
comprado”, “Pelo fim do jornalismo” e afins.
A
quem interessa uma imprensa fragilizada?
A
função dos veículos de comunicação sempre foi e é essa mesmo: questionar,
criticar, informar. Quer uma mídia que elogie o governo? Vou sugerir duas:
Pravda (“Verdade” em russo”) e Granma. Aquele, da antiga União Soviética; este,
jornal cubano. Resumindo: você é um comunista enrustido!
Alegar
que toda a imprensa é de esquerda é ridículo! Como era patético o PT sustentar
que era toda de direita! A pluralidade de ideologias existe e varia conforme o
proprietário, o editor-chefe e interesses. Não sei se percebeu, mas eles também
são humanos. Basta você discernir o que é de qualidade ou não, contudo, sem
julgamentos formados ou antecipados. E sem jogar todos na vala comum de que
nada presta.
Capítulo 5: Uma citação
de jornalista, outra de político
“Dizem
que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É
tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica
não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem
ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa
alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto,
uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado.”
(Paulo Francis)
"Existe
uma terrível desvantagem de não ter a qualidade abrasiva da imprensa aplicada a
nós todos os dias. Mesmo que não gostemos, e mesmo que desejássemos que não tivessem
escrito, e mesmo que não aprovemos, não existe nenhuma dúvida que não faríamos
o nosso trabalho numa sociedade livre sem uma imprensa ativa, muito ativa.”
(John F. Kennedy)
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